Mariana Ximenes estreou na televisão em 1998, aos 17 anos, na novela Fascinação, do SBT, e no piloto do seriado Sandy & Junior. Vinte anos depois, aos 37, ela comemora as duas décadas de sucesso como uma das mais requisitadas atrizes da televisão brasileira: fez papéis emblemáticos em novelas como Andando nas Nuvens (1999), Uga Uga (2000), Chocolate com Pimenta (2003), A Favorita (2008), Passione (2010) e Haja Coração (2016), além de ter mais de 20 filmes no currículo e ter acabado de finalizar duas séries inéditas: Se Eu Fechar os Olhos Agora e a segunda temporada de Ilha de Ferro.
Incansável, a atriz revela como se renova a cada trabalho, diz que tem diminuído o ritmo e abre o coração sobre sua relação com a família e a natureza em conversa exclusiva com a QUEM.
Você está completando 20 anos de carreira. Como renova seu interesse pelo trabalho?
Eu nem acredito que são 20 anos. Me renovo fugindo para a natureza, dando um tempinho. Fiz uma viagem de férias e foi fundamental para eu voltar com mais gás, com mais energia, com a criatividade renovada. Preciso ter tempo para ler. Quem lê bastante tem mais vocabulário, mais raciocínio, o livro é fundamental. Eu fui votar com um livro, estava escolhendo e tirei da estante o “Cartas ao Coração”, que são as cartas trocadas pela Clarice Lispector e o Fernando Sabino. Que lindo era conversar através de cartas... Perdemos isso, um email não é a mesma coisa. Nem temos mais esses raciocínio, mas a leitura traz isso de volta. Amplia seu raciocínio e te liberta. Ninguém tira seu conhecimento. Então, para me renovar, eu preciso me nutrir de filmes, de teatro, encontrar os amigos, conversar… Silêncio, meditar, e aprender coisas novas. Eu comecei a aprender violão, que loucura! É dificílimo, mas é um estímulo, é outra janelinha que se abre no seu cérebro. É gostoso aprender, é uma sugestão para todo mundo, buscar algo novo sempre.
Tem coisas que ainda quer fazer na carreira?
Muita coisa! Quero ser igual a Nathália Timberg, com 89 anos no teatro fazendo monólogo; Fernandona (Montenegro), Laura Cardoso... Quero isso: ainda trabalhar muito, como elas.
Você assiste seus trabalhos antigos?
Tenho um olhar crítico natural, mas sou tão grata pelo privilégio de poder exercer o meu ofício, que eu sonhava desde os seis anos de idade, que eu olho o que faço e, por mais que tenha algo que eu não gosto tanto, é a minha história. Eu assisto com um olhar feliz, me sinto abençoada de ter escolhido isso tão jovem e aos 17 anos ter conseguido um bom contrato, um emprego na coisa que eu mais acreditava, no trabalho que eu queria fazer. Sou gratidão pura. Claro que nem sempre você fica feliz, tem as criticas, as pessoas que você quer trabalhar de novo, as pessoas que você não quer trabalhar de novo... Mas são as nossas batalhas. Não tem manual de instruções de como lidar com certas situações. Você vai jogando o jogo da vida de acordo com seu caráter, seus valores.
Aos 37 anos, já pensa em se dedicar a papéis mais maduros?
Vai chegar o momento em que vou interpretar as mães, depois as avós. A Adalgisa, da série Se Eu Fechar os Olhos Agora, já tem um peso maior. No Ilha de Ferro tenho uma questão de maternidade. Vai acontecendo, acho que é natural.
Essas duas séries ainda não foram exibidas na TV, então para o público já faz algum tempo que você está longe.
Fiquei oito meses trabalhando no Se Eu Fechar os Olhos Agora, mas como ainda não foi exibida, ninguém soube que eu estava ocupada. Quando terminei eu fui viajar, ficar um pouco fora. O ano de 2016 foi avassalador. A Tancinha (personagem principal da novela Haja Coração) tinha muita demanda, e antes de dar tudo certo eu estava muito receosa, não podia errar, e foram quatro filmes e o (seriado) Supermax. Acabei tudo e só sobrou um fiapo de mim. Daí tirei férias, e depois fui para Cannes com o Circo Místico. Foram dois meses de férias, não posso reclamar. Fui para Tailândia e Laos, daí estava perto do Camboja e fui conhecer, acabei em Myanmar. Eu gosto dessas viagens exóticas, e tenho uma afilhada morando em Bali, passei meu aniversário lá. Foi super bonito porque passei em um templo de mil anos, fiz toda uma cerimônia, um ritual... Foi lindo e simbólico. Esses lugares têm muita ligação com a natureza, e uma cultura muito diferente da nossa. Chacoalha a cabeça, é muito bom.
Você é mais da natureza ou da cidade grande?
Eu preciso de natureza, de meditação, minha alma precisa dar um mergulho no mar ou em uma cachoeira. Dar uma fugida para o silêncio, desligar o telefone, para mim, é fundamental. Eu baixei aqueles aplicativos que monitoram o tempo que passo no telefone e comecei a me policiar. É uma meta minha, praticar mais olhar nos olhos, se desligar, não levar o celular para a cama.
Você é workaholic? Aceita todos os convites de trabalho que recebe?
De uns tempos pra cá comecei a selecionar melhor, como construção de carreira mesmo. Dar esses intervalos para voltar mais fortalecida, mais reinventada. Sou muito grata quando me chamam para fazer um trabalho. Fico de verdade imensamente grata, e é muito difícil para mim dizer não, inclusive trabalho isso na análise o tempo todo. Mas as vezes você precisa se reciclar, o público precisa se reciclar, é difícil. É um ponto que preciso trabalhar sempre, falar não. Acho que a maturidade te ajuda. O trabalho interno, da meditação, da análise, me fortaleceu para eu ter mais clareza para fazer essas escolhas. Você guarda energia para poder colocá-la em algo, porque se você vai só tirando, tirando, tirando e não repõe, no que vai dar?
É um momento de querer se dedicar mais a sua própria vida em detrimento do trabalho?
Acho que dá para conciliar tudo. Eu sou muito apegada a minha família, parte está em São Paulo e parte no Ceará. Âs vezes acordo cedo e vou ver minha avó. Podia ter dormido mais, podia ter ido para a academia, mas preciso ver minha família. E acho que família é quem veio na sua vida e quem você adquire durante a sua caminhada. Jorge Amado dizia que “amizade é o sal da vida” e eu cultivo meus amigos, preciso deles. Minha família sempre me deu muito suporte. Minha mãe é fonoaudióloga, meu irmão é médico e meu pai é advogado, procurador do estado e professor. Ele é ético, comprometido, envolvido, minha mãe trabalha com a expressão da voz, ajudou muito na minha formação. E tenho cinco afilhados, sou louca por eles. Sou a dinda que vai, que faz, que está presente. Meus amigos confiaram a mim essas crianças e sou super comovida com isso. Eu adoro criança e levo muito a sério ser madrinha. Quero estabelecer um vínculo com essas crianças, quero estar presente na vida delas.