Ela nasceu em 8 de julho, mas comemora seu aniversário dois dias antes. Françoise Forton, 57 anos, considera-se abençoada e acredita que nasceu novamente em 6 de julho de 1991, dia em que fez uma cirurgia para a retirada de um tumor no colo do útero. “Foi terrível conviver com a ideia da morte”, diz ela, que também sofreu de síndrome do pânico e se curou com terapia. A atriz, que começou a trabalhar aos 8 anos e sempre ajudou financeiramente em casa, se emociona quando recorda da infância vivida em Brasília, cidade natal que trocou pelo Rio aos 17 anos. De seu relacionamento de quatro anos com o físico Ênio Viotti, 56, nasceu seu único filho, Guilherme, 30.
Ao lado do produtor teatral Eduardo Barata, 47, com quem está há dois anos, a atriz realizou o antigo desejo de aumentar a família. Ganhou as enteadas Maria Eduarda, 14, e Maria Antônia, 11. “A gente se ama e se cuida muito”, diz. Para comemorar seus 45 anos de carreira, ela está captando recursos para montar a peça Estúpido Cupido – O Musical, com direção de Wolf Maya, em alusão à novela em que viveu sua primeira protagonista na TV, em 1976. Em cartaz com Nós Sempre Teremos Paris, no Rio, Françoise diz que vive o melhor momento de sua vida. “Estou feliz. Obrigada, Senhor.”
QUEM: No que você e Gigi são parecidas?
FRANÇOISE FORTON: Gigi habita outra realidade, está sempre um pouquinho acima do chão. Trabalho desde os 8 anos, comecei a fazer teatro aos 11 e estreei profissionalmente em Brasília. Desde que comecei a ter contrato e ganhar dinheiro, ajudava minha mãe em casa. Ela era viúva e éramos só nós duas. Não me lembro do meu pai (ele morreu quando ela ainda era bebê).
QUEM: Você é filha única. Como foi a relação com sua mãe?
FF: Tive uma educação rígida, aprendi piano, fiz balé, canto lírico e teatro, e estudava. Éramos cúmplices. Ela ficou doente de cama muitos anos, mas lúcida e vibrante, e faleceu em 1993. Aliás, família é uma coisa que estou à cata, queria reencontrar alguém por parte de pai. Por causa da minha mãe, comecei a ver a condição dos idosos no Brasil e fiquei apavorada. Meu primeiro documentário (feito na faculdade de cinema) é sobre essa realidade.
QUEM: Como foi sua infância?
FF: Vivi em Brasília até os 17 anos, a gente andava na rua com filho de ministro. Não consigo tirar do coração minha Brasília, o céu de lá é o mais bonito, tem um horizonte inteiro. Saí de lá para fazer teatro no Rio. Quem me ajudou foi a (atriz) Glauce Rocha. Ela dizia: “Se o seu trabalho é entrar e servir um cafezinho, faça disso a coisa mais importante da sua vida” (se emociona).
QUEM: Como foi sua volta à TV Globo após dez anos longe da emissora?
FF: Fui muito bem tratada na Record e no SBT, mas essa volta à Globo me emociona diariamente. É um câmera de cabeça branca que não te vê há um tempão, te dá um abraço e fala: “Que coisa boa que você está de volta!”. Tenho a sensação de que estou voltando para casa. Estou aprendendo tantas coisas, o personagem é o meu oposto e Walcyr Carrasco é novo para mim. Lidar com sucesso é mais difícil do que lidar com o fracasso.
QUEM: É verdade que você tem um gênio forte?
FF: Tenho. Há coisas que me tiram do sério. Quero tirar a limpo, resolver, tudo me toca muito. Sou enfática, vou lá e falo. Já fui pior. Hoje, sei que, se eu não me fechar, falo o que não devia. Anos atrás, eu diria que sou um doce. Atualmente, sou mais crítica comigo. Busco a leveza.
QUEM: Você se separou quando seu filho ainda era pequeno. Como foi criá-lo sozinha?
FF: Tenho uma relação muito boa com o Ênio, pai do Guilherme, é um grande amigo. Mas ele sempre morou em Brasília, e eu no Rio. Trabalhar com filho pequeno é punk. Guilherme ia para a coxia, amigos me ajudavam. A briga, a festa, o chamar a atenção, era tudo comigo. Isso nos deu uma franqueza muito grande. Guilherme é meu maior amigo. Vou ser avó um dia e torço para que apareça uma relação bacana para o Guilherme e seu bebê.
QUEM: Você se casou de novo aos 55 anos. Imaginava que isso fosse acontecer nessa fase da vida?
FF: Não queria ter uma aventura. Estávamos saindo havia alguns dias, mas o sentimento da falta e, obviamente, a felicidade de estar junto foram me mostrando o quanto amava o Eduardo. No dia do meu aniversário, há dois anos, a gente oficializou o namoro.
QUEM: Como é a relação de vocês?
FF: Eduardo é um homem sério, sincero e sensível. A gente se ama e se cuida muito. Somos apaixonados. É meu maior bebê, que eu mais amo. Quero que isso dure a vida toda. Parece que estamos juntos há muito tempo. A gente se entende e tenho orgulho do profissional que ele é. Estou feliz. Obrigada, Senhor. Acho que esse é o amor da minha vida
QUEM: A diferença de idade entre vocês (dez anos) foi, em algum momento, uma preocupação?
FF: Cheguei a pensar nisso. Daqui a um tempo estarei muito mais velha, mas isso não é um problema na nossa relação. Já tive ciúme, mas hoje temos uma confiança tão grande, mútua, que posso até sentir ciúme, mas sei que não vai acontecer nada. É um sentimento sólido.
QUEM: Você descobriu que tinha câncer de útero fazendo Tieta, em 1989. Como foi essa etapa?
FF: Descobri durante exames de rotina. Fazia teatro e novela e não queria que ninguém soubesse. Conviver com a ideia da morte foi terrível. Fiquei desesperada, minha mãe só descobriu que eu estava doente quando fui me tratar no hospital em que ela estava internada. Eu já estava andando com muita dificuldade e ela falou: “Filha, nem que você pegue o meu andador, precisa andar”. Quando consegui andar de um banquinho a outro foi o dia mais feliz da minha vida. As sessões de quimioterapia me cansavam, tive um pouco de perda de cabelo, cansaço.
QUEM: Como seu filho reagiu a isso tudo?
FF: Quando soube que tinha de ser operada, falei para Guilherme: “Filho, queria te dar um irmão da minha barriga, mas sua mãe está doente e não poderá dar um bebê para você”. Ele virou e disse: “A gente adota”. Aí, fiquei em paz. Fiz a operação dois dias antes do meu aniversário, e, em todo dia 6 de julho, sento, me recolho, agradeço a Deus por estar aqui e comemoro.
QUEM: Você ficou muito tempo sem falar da doença. Por quê?
FF: Descobri que era importante alertar as pessoas. Nunca tive nenhum sintoma e teria morrido sem saber. A gente não pode estar na vida a passeio. Depois do que vivi, a escala de valores da vida passou a ter outra proporção. Participo de todas as campanhas para que me chamam.
QUEM: Como você se cuida hoje?
FF: Com o câncer, fiquei com problemas de refluxo, muita alergia e vários probleminhas endócrinos. Uma pessoa que passou por um câncer tem que cuidar melhor da pele, do cabelo, das mãos. Tomei muito sol quando jovem, sou sardenta. Pratico pilates e faço balé clássico, preciso estar com meu instrumento de atriz, o corpo, apto para qualquer coisa. Faço isso para ter uma vida melhor. Se a gente pudesse ter menos idade com a experiência que tem, seria bom.
QUEM: Você posou nua para uma revista masculina em 1989. Arrepende-se?
FF: Fiz porque precisava do dinheiro e estava cuidando de minha mãe. Tinha dívidas, pensei muito e conversei com meu filho. Gostei do resultado. É claro que me ajudou a resolver a vida financeira, mas não sei se faria de novo.