![Malvino Salvador Capa (Foto: ) Malvino Salvador Capa (Foto: )]()
Malvino Salvador está feliz com o sucesso de Agno com o público de A Dona do Pedaço. Desde que seu personagem, o poderoso executivo se separou de Lyris (Deborah Evelyn) e assumiu ser gay na novela das 9h da TV Globo, o ator, de 43 anos, tem se deparado com abordagens para lá de positivas por onde anda. "Outro dia, estava no shopping e encontrei uma conhecida minha de 50 anos, que é supertradicional, frequenta igreja e é muito conservadora, e ela gritou: ‘Malvino!’ Olhei e ela veio pertinho de mim e falou: ‘Que roubada que te colocaram. Mas está do c...! [risos]", lembra ele, às gargalhadas. "Foi um exemplo muito preciso do que está acontecendo: as pessoas podem ter preconceito, mas as cenas estão divertidas, então elas estão curtindo ver", explica.
Completamente entregue ao papel, Malvino defende que haja um beijo entre Agno e Leandro, justiceiro vivido por Guilherme Leicam. Na história de Walcyr Carrasco, os dois personagens vivem um romance e estão cada dia mais envolvidos. "Se eles desenvolverem o relacionamento, por que não ter um beijo? Mas ao mesmo tempo, entendo que nós vivemos em uma cultura muito tradicional, machista e homofóbica. Entendo que é difícil para algumas pessoas tentarem se distanciar do que elas escutaram uma vida inteira", argumenta o ator. Para ele, o beijo tem que ser muito bem contextualizado. "A inteligência cênica, na minha opinião, é tentar fazer com que o telespectador entenda as questões do personagem, que se envolva com ele, aí sim, ele vai estar aberto para o beijo. Nesse sentido o Walcyr está sendo muito inteligente na condução dos personagens", elogia.
Há seis anos com a lutadora de jiu-jítsu Kyra Gracie, de 34, o ator - nascido e criado em Manaus (AM) – também está realizado na vida pessoal. Isso porque os dois, que já são casados no civil e pais de Ayra, de 5 anos, e Kyara, de 2, vão fazer uma festa de casamento no dia 12 de outubro, em Fernando de Noronha (PE). O ator também é pai de Sofia, de 10 anos, de sua relação com a empresária Ana Ceolin. Apesar de morar em Brasília com a mãe, a menina costuma passar as férias com as irmãs no Rio, onde Malvino mora. "A gente pensou que fosse ser bem íntimo. Imaginávamos que seria para 70 pessoas, mas já tem 190 confirmadas [risos]. Eu acho que vai ser do cacete, muito legal, irado", confessa.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Parte da população ainda tem muito preconceito e resistência a ver personagens gays e relações homoafetivas em novelas. Sentiu alguma rejeição do público? Como é a abordagem do público?
Não sabia o que ia acontecer. Esperava que poderia ter as duas coisas: rejeição e aceitação. Por uma questão de costume, cultura e preconceito, ainda existem pessoas que não querem ver aquilo, não se sentem à vontade e confortáveis. Mas também existem aquelas pessoas que têm preconceito, mas se divertem com as cenas porque o papel sugere o humor. Escolhi alguns caminhos com meus parceiros de cena para que a gente pudesse colocar uma pimenta gostosa. Tentei criar um personagem que tivesse o arquétipo masculino, mas que pudesse dar uma ‘requebradinha’ de vez em quando [risos]. Acho que deu certo. Outro dia estava no shopping e encontrei uma conhecida minha de 50 anos, que é supertradicional e frequenta igreja, é muito conservadora, e ela gritou: ‘Malvino!’ Olhei e ela veio pertinho de mim e falou: ‘que roubada que te colocaram. Mas está do c...! [risos]'. Foi um exemplo muito preciso do que está acontecendo: as pessoas podem ter preconceito, mas as cenas estão divertidas, então elas estão curtindo ver. Isso é muito interessante porque quando vierem os dramas do personagem, essas pessoas conseguirão entendê-lo e aceitá-lo. Como aconteceu com o Félix [Mateus Solano] em ‘Amor à Vida’ e com a Ivana/Ivan [Carol Duarte] em ‘A Força do Querer’. Todo mundo tem suas escolhas e temos que respeitar.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Você disse que defende o beijo de Agno e Leandro. Já deveria ter acontecido um beijo, não?
Se eles desenvolverem o relacionamento, por que não ter um beijo? Mas ao mesmo tempo, entendo que nós vivemos em uma cultura muito tradicional, machista e homofóbica. Entendo que é difícil para algumas pessoas tentarem se distanciar do que elas escutaram uma vida inteira. É difícil mudar a cultura de uma pessoa. Acho que a novela, como produto de massa, pode contribuir para isso. Mas se quer chocar, não vai contribuir, a reação é oposta. A inteligência cênica, na minha opinião, é tentar fazer com que o telespectador entenda as questões do personagem, que se envolva com ele, aí sim, ele vai estar aberto para o beijo. Vivemos em uma cultura que ainda tem muitas questões em relação a isso, não é de uma hora para outra que você a transforma. Ela tem que ser trabalhada, ruminada com cuidado. Nesse sentido o Walcyr está sendo muito inteligente na condução dos personagens.
O que sinto é que as pessoas que não conseguem aceitar, pelo menos não estão sendo violentas, o que é um bom sinal. Sinto isso nas postagens que faço nas redes, porque não tem comentários violentos
Já ouviu alguém dizendo que se identifica com o Agno?
Sei de muitas histórias como a dele, tenho amigos gays e sabemos que isso acontece. Um mês atrás estava indo para os Estúdios Globo [na Zona Oeste do Rio] de carro e um carro forte parou ao meu lado. Senti uma movimentação lá dentro e quando olhei, o segurança estava gesticulando para que eu olhasse para ele. Quando olhei, ele deu um sorriso e ficou apontando para si mesmo e falando: ‘sou gay!’ Provavelmente ele tinha esse perfil do Agno.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Então, o retorno está sendo mais positivo do que negativo...
Um técnico lá da Globo veio falar para mim: ‘minha mãe mora no interior de Minas Gerais e veio passar a semana comigo. Estávamos vendo a cena do morango [em que o Agno coloca a fruta na boca do Leandro] e ela falou: ‘está legal, mas nunca vi o Malvino assim. Quando você colocou o morango na boca do outro, minha mãe ficou tensa: meu Deus, eles vão beijar? [risos]’ Outro conhecido meu falou: ‘quando vi essa cena, saí da sala, não consegui ver’. Acho que tem as duas coisas. Provoca as pessoas que ainda não conseguem aceitar, mas também atinge as que aceitam. O que sinto é que as pessoas que não conseguem aceitar, pelo menos não estão sendo violentas, o que é um bom sinal. Sinto isso nas postagens que faço nas redes, porque não tem comentários violentos".
Você saiu às ruas em defesa da Operação Lava-Jato. Acha que o país está melhorando?
Acho que o país melhorou muito e houve uma grande revolução na questão da impunidade. Tem muita coisa a ser melhorada ainda porque há muita resistência. Quando você começa a incomodar poderosos, eles começam a agir, tanto no Congresso quanto na esfera jurídica. Ainda há resistência com os avanços que a Lava-Jato proporcionou ao país. Ao mesmo tempo, também concordo que possam ter havido excessos que precisam ser revistos, mas isso não pode ser um instrumento para querer acabar com tudo o que foi conquistado e usar disso de subterfúgio para soltar pessoas que cometeram atos ilícitos. Todos têm que estar no mesmo nível e sofrer o que a lei impõe. Estamos em um momento de botar em xeque todas essas questões. Recentemente, houve um movimento do Congresso na surdina em votação rápida e aprovaram uma lei de abuso de autoridade que cerceava a ação de juízes, procuradores e policiais. Isso é um absurdo, precisa passar por uma discussão! A sociedade precisa estar atenta e ter um tempo de maturação, tem que apoiar o que está sendo bom e rechaçar o que está sendo ruim. Existe um problema que ainda é evidente e é um complicador, que é a polarização. Não sou de direita nem de esquerda. Mas sou completamente contra o movimento Lula Livre. Ao mesmo tempo, não sou a favor do radicalismo de direita de jeito algum. Não vejo hoje no Brasil ninguém com a capacidade de aglutinar ideias com um pouco mais de bom senso".
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Você já disse que foi uma criança asmática, gaga e “palito”. Como foi sua infância em Manaus?
Comecei a fazer natação por causa da asma, com seis anos de idade. Foi o que me salvou. Fiz sete anos de natação e só fui parar com 16. No meio do caminho tive uns intervalos, mas treinei bem. Treinava diariamente, competia e tal. Também comecei a fazer judô aos seis anos. Acho que o judô e a natação vão te dando autoconfiança. Sempre lidei bem com a gagueira, por exemplo. Tirava sarro também. Quando vinham tirar sarro de mim, a brincadeira não prosperava. Toda vez que entrava em uma escola nova, vinha a zoeira. E como não me importava logo, se dissipava a zoação. Porque se não está afetando o outro, para que vai implicar? Meu pai e minha mãe me ensinaram isso. Realmente levei isso a cabo e deu certo.
Mas você era tão magro assim?
Eu era muito magro! De uma hora para outra, dei uma espichada e cresci muito rápido. Tinha muitas dores nas articulações. Como treinava natação, comia igual a um boi, mas era muito magro. Nadava seis mil metros por dia de segunda a sexta e quando tinha competição, treinava no sábado também. Saía de lá depois de duas horas de treino ininterruptos. Fiquei muito magro até os 16 anos, quando decidi que queria ganhar massa muscular. Na mesma época, a gagueira também terminou. Hoje em dia é muito difícil me ver gaguejar. Gaguejo raramente, só quando estou nervoso. Trabalhar como ator me deu mais domínio da palavra. A gagueira tem muito a ver com ansiedade. Aprendi a falar com clareza, a articular as palavras.
Acho que o judô e a natação vão te dando autoconfiança. Sempre lidei bem com a gagueira, por exemplo. Tirava sarro também. Quando vinham tirar sarro de mim, a brincadeira não prosperava
Com o que você trabalhava em Manaus?
Comecei trabalhando como vendedor de loja, tinha 17 para 18 anos, trabalhei até os 20 e poucos. Depois comecei a fazer faculdade de Contabilidade e trabalhei um ano e pouco na Secretaria da Fazenda do Estado do Amazonas na parte de contabilidade, aduaneira, ICMS, essas coisas todas. Em seguida, trabalhei como estagiário no Banco do Brasil e logo depois, fui funcionário do Bradesco. Nesse meio tempo, quando estava prestes a me formar, surgiu a oportunidade de trabalhar como modelo em São Paulo.
Como surgiu essa oportunidade?
Encontrei o dono de uma agência de Manaus, para quem já tinha feito um desfile quando era mais novo, com 17, 18 anos. E ele me disse: ‘Malvino, vai rolar um desfile enorme em comemoração ao aniversário do shopping de Manaus e vão vir vários modelos de São Paulo, algumas tops internacionais também, vai ser muito legal. Quer participar?’ Falei: ‘ah, cara, não estou mais a fim de fazer”. Mas ele insistiu dizendo que o cachê era muito bom! E era muito bom mesmo, então aceitei. Era no fim de semana, não atrapalhava meu trabalho no banco. Fiz o desfile, a booker da agência me viu e falou: ‘por que você não vai trabalhar como modelo em São Paulo? Te coloco na agência’. Conversei com meus pais e falei sobre a oportunidade. Estava a fim de me aventurar e pedi um ano de ajuda para eles, para ver o que rolava. Lembro que falei: ‘se não der certo lá, no mínimo morei sozinho, tive que correr atrás das minhas coisas, vai ser bom, São Paulo é uma cidade gigantesca’.
E deu certo, né?
Sim! Tinha uma reserva financeira, mas foi acabando e meus pais me mantiveram lá por dois anos. Comecei a trabalhar como modelo com 25 anos e no início dependi muito da ajuda deles. No segundo ano, comecei a não depender mais. Só quando uma coisa ou outra apertava, pedia um socorro. Porque a carreira de modelo é muito instável. Às vezes, ganhamos um dinheiro grande, depois não trabalhamos. No último ano, já estava vivendo com o que ganhava e bem, tranquilo, pagando aluguel. Consegui até comprar um carro, porque no início fiquei dois anos e meio sem carro.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Mas como você foi parar na atuação?
Nesse ínterim do trabalho como modelo, fazia testes para TV e cinema. O Wolf Maya ia abrir a escola dele e deixei meu composite lá para me inscrever. Um dia me ligaram e falaram: ‘olha, você tem o perfil para fazer a peça Blue Jeans, são 22 atores em cena. Você é ator?’ Menti na época. Falei que era. Perguntaram também: ‘você canta e dança?’ E respondi: ‘Sim! Canto, danço’. Mal sabia ele que só dançava dois para lá, dois para cá e cantava comigo mesmo no banheiro para não passar vergonha [risos]. Isso me deu a oportunidade de fazer o teste e passei. Fui o último a entrar e o último a permanecer. Porque depois que foram escolhidos os atores, teve uma reorganização e tiveram que tirar quatro atores. Fui o último que fiquei, quase saí. Depois ganhei um personagem no meio da peça e fui crescendo.
Foi aí que decidiu que queria seguir a carreira de ator?
Depois que entrei na peça, comecei a focar. Falei: ‘encontrei uma coisa que gostei de fazer’. Passei a estudar, a ver muito cinema e teatro porque não sabia nada. Passei a mudar a minha postura até surgir uma oportunidade. Acho que na vida tem essa coisa: ‘as oportunidades passam e se você está apto quando elas chegam, você pode conseguir conquistar’. Isso aconteceu comigo pela segunda vez em ‘Cabocla’. Já tinha uma certa experiência com publicidade e câmera e quando fui fazer o teste para a novela, fui sem nervosismo. Para mim era mais um teste, porque quando você trabalha com publicidade, você faz tanto teste e perde mais do que ganha que se acostuma. Fui para o teste de ‘Cabocla’ tranquilo: ‘se pegar, peguei, se não pegar, não peguei’. Entre todos os atores, inclusive os conhecidos, eu era o mais tranquilo. E isso me ajudou a conseguir o personagem. E mais uma vez tive que correr atrás.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Li isso em algum lugar e uso para mim: ‘quando você não pode mudar algo, não sofra por isso, tente contornar a situação, tente contribuir da melhor maneira para que isso não te afete’. Então comecei a fazer isso
Qual foi a melhor orientação que te deram em relação à sua profissão?
Quando você começa na carreira, você recebe muitas orientações, principalmente das pessoas que te olham e veem o seu potencial e querem que você dê certo. O Tony Ramos me deu inúmeros conselhos, como: ‘não chegue atrasado, dê valor às coisas, não fique preso a picuinhas que vão rolar, não entre nesse clima das pessoas falando mal, lute por seus direitos, antes de fazer uma análise e se irritar e perder a razão, tenha o cuidado de procurar saber por que aquilo aconteceu, esteja pronto, com o texto na ponta da língua, ajude o parceiro, tente sempre botar um frescor no personagem, seja ele vilão ou mocinho, nunca perca o senso de humor que o personagem pode proporcionar porque ele dá tempero'.
Qual foi sua maior dificuldade na profissão?
Teve um momento de trabalho em que me senti angustiado, foi na novela ‘O Profeta’. Era personagem que tinha uma função e, de repente, vi aquilo acabando. Novela é obra aberta, fiquei muito apegado à sinopse e ao que tinha construído e tudo foi se esvaindo e comecei a botar a culpa nos outros: ‘poxa, não estão valorizando’. Levei alguns meses para perceber que era o único angustiado ali. Percebi que como me sentia angustiado, cada vez o personagem perdia mais contexto, porque cada vez fazia ele com menos frescor e capacidade criativa. Estava me boicotando, na verdade, só estava afetando negativamente a mim mesmo. Quando percebi isso, falei: ‘cara, que idiota que estou sendo’. Porque não depende só de mim. Li isso em algum lugar e uso para mim: ‘quando você não pode mudar algo, não sofra por isso, tente contornar a situação, tente contribuir da melhor maneira para que isso não te afete’. Então, comecei a fazer isso. Caiu a ficha e em um belo dia cheguei no estúdio chateado e era um dia de evento. Estava todo mundo rindo. Eu era o único chateado. Tive um estalo: ‘cara, está todo mundo bem e eu sofrendo. Quem está errado sou eu. Vou fazer o melhor que posso desse personagem, do que está sendo apresentado’. E o personagem voltou a crescer e a ficar interessante, terminou a trama muito bem. A partir desse momento, percebi que você tem que fazer parte do jogo e dar o melhor de si. Se não está indo bem para o seu lado não importa, não é culpa sua.
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Concordo em praticamente tudo dela com ela. E além da coisa da ética, dos costumes, valores, é o quanto você admira a pessoa pelo que ela faz. A Kyra é uma pessoa que já conquistou tudo o que poderia e quis conquistar
Quando você conheceu a Kyra, estava recém-solteiro. O que ela tinha que te chamou atenção?
O todo. Quando encontrei a Kyra tinha acabado de ficar solteiro. E, de repente, encontro ela, uma mulher interessantíssima, que já conhecia e tudo mais. A gente acabou ficando e bateu aquele negócio já de cara. Mas estava solteiro ainda. Só que a gente foi ficando, ficando, ficando. Também é isso: ‘não vamos perder a oportunidade [risos]’. Fui encontrando primeiro os valores. Uma coisa é você sentir atração por uma pessoa, outra coisa é você querer viver com uma pessoa. E já estava em uma fase assim: ‘ou levo uma coisa a sério ou fico solteiro. Se for para tentar construir uma coisa com alguém, tenho que estar muito satisfeito com a questão de ética, moral e costumes dessa pessoa’. E isso bateu de cara com ela, em 99,99999%. A gente combinava em tudo, inclusive em defeitos. Até nisso a gente teve que melhorar. Senão, aponto defeito e ela fala: ‘você também faz’ [risos]. Quando falo uma coisa, ela já sabe o que estou pensando, quando ela vai falar uma coisa, já sei o que ela está pensando. A gente se conhece muito bem.
Vocês são muito parecidos...
Concordo em praticamente tudo com ela, do jeito dela de ser... E além da coisa da ética, dos costumes, dos valores, é o quanto você admira a pessoa pelo que ela faz. A Kyra é uma pessoa que já conquistou tudo o que poderia e quis conquistar. Ela foi oito vezes campeã mundial, cinco vezes na faixa preta com quimono e três vezes sem quimono, nos dois principais campeonatos mundiais de luta de chão agarrado. Ela parou porque quis. Além disso criou novas etapas na vida dela. Não queria uma pessoa acomodada do meu lado. E a Kyra tem essa coisa de querer fazer as coisas acontecerem. Isso me incentiva. Se tivesse uma pessoa que está em casa falando: ‘não quero, já conquistei, não quero mais', não sei se ia me ajudar a me realimentar’. Um puxa o outro. A gente se complementa. Tenho admiração por ela. Se acabar a admiração acaba o romance. Meu romance com ela só está dando certo e vai continuar porque tenho muita admiração por ela e tenho certeza de que ela tem muita admiração por mim.
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Vocês brigam?
É muito raro. E quando teve briga, falamos: ‘vamos resolver’. A gente sempre tem um tempo para a gente. Às vezes, não consigo estar nos horários que ela está, então busco as crianças na escola e ela leva. Ou levo para a natação e ela busca. Mas a gente separa momentos de fazer essas coisas juntos para que as crianças percebam que a gente está junto. Às vezes, ela viaja, outras vezes, eu. Mas quando a gente está aqui a gente está sempre com as crianças. Esse ano, minha filha de Brasília já veio para cá duas vezes, vai vir agora de novo e no fim do ano vem pela quarta vez. Ela está sempre aqui. Quando terminar a novela a gente viaja junto. No fim do ano a gente vai para Manaus. Um ano a gente passa o Natal aqui, minha família vem de lá para cá, outro ano a gente vai para lá. Esse ano a gente vai passar lá. A gente está sempre fazendo passeios com as crianças. Vamos para a fazendinha, para a praia, para os aniversários das amiguinhas. Tem sempre uma atividade e a gente vai com elas. Acho que o mais importante na educação dos filhos é os pais estarem presentes. Não dá para transferir a responsabilidade para a escola. A escola é um suporte. Os valores vêm dos pais. E para isso, eles têm que estar presentes. E esse tempo com as meninas é muito prazeroso para mim e para a Kyra.
Você é pai de três meninas e vivemos em um mundo muito machista. Ter a Sofia, depois a Ayra, e por fim a Kyara, te abriu os olhos, fez você enxergar as coisas de um outro ponto de vista?
As crianças estão crescendo, essas questões ainda vão aparecer. Acho que todo mundo tem direito de ter as mesmas oportunidades. Temos que respeitar as pessoas. Certas piadinhas são ultrapassadas, tem que saber com quem você tem liberdade de fazer brincadeiras ou não. Ao mesmo tempo, odeio essa coisa do politicamente correto. Acho isso um saco! Também não se pode falar nada! Tem que ter um equilíbrio, mas parte do bom senso. Nesse sentido preparo as minhas filhas para o mundo. A gente explica para as nossas filhas, desde que elas entendem, o seguinte: ‘se um amiguinho vier te bater, te morder, o que você faz? Você segura ele, deixa ele se afastar e fala: 'para’ É que, estatisticamente, já foi comprovado que quando a criança se posiciona frente a uma situação dessa, a probabilidade de ela eliminar a continuidade desse bullying é infinitamente maior do que o contrário, passa de 90%. Mas têm crianças que, por uma timidez, se retraem. Quando ela se retrai o outro pode tentar fazer de novo, porque o retorno que ele teve daquilo foi: ‘ah, vou fazer de novo. Posso de novo’. A gente já orienta as duas, desde um ano de idade, a saberem se proteger sem precisar revidar. Isso funciona.
![Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires) Malvino Salvador (Foto: Dêssa Pires)]()
Você se vê nelas?
Me vejo muito quando era criança, fui um menino muito levado, dei muito trabalho para os meus pais. Duas delas são assim. A Sofia passou por um período bem levada e a Kyarinha também, tem que ficar na cola dela [risos]. A Sofia está ótima agora... Já a Ayra sempre foi mais princesinha. Bate o joelho, vem com manha e tem que dar beijo no joelho. A educação é muito delicada porque você tem que tentar dar equilíbrio emocional para o seu filho sem tirar a personalidade dele, e ao mesmo tempo, sem deixar que ele faça o que quer. E mostrar para eles que existem limites. E é o dia a dia, o tempo inteiro. O diálogo é muito importante e também valorizar quando acertam.
Minha alimentação é muito saudável no meu dia a dia, mas não sou radical. Dentro da nossa casa não entra nada empacotado, industrializado. Só comemos proteínas, verduras, frutas e grãos
O que você come? A Kyra é/era atleta, tem uma disciplina absurda, contou para a gente que tenta que as meninas só comam saudavelmente, itens orgânicos... É assim no dia a dia?
Minha alimentação é muito saudável no meu dia a dia, mas não sou radical. Dentro da nossa casa não entra nada empacotado, industrializado. Só comemos proteínas, verduras, frutas e grãos. A Kyra teve que fazer uma suplementação por questão hormonal por causa da gravidez e tal, mas foi só por um período. Também tomamos equinácea para melhorar a imunidade. Nossa alimentação é variada entre verduras e legumes, grãos e proteína. Entra de tudo aqui em casa. A Kyra não come porco por uma questão da família, mas eu como. Se eu for comer uma picanha [não faço em casa, só em churrasco na rua] tiro a gordura. A gente come, majoritariamente, peixe e frango, depois frutos do mar e carne vermelha uma ou duas vezes na semana. Também consigo me alimentar bem fora de casa. Nos Estúdios Globo tem um lugar com comida variada, saladas, bem gostoso. Aqui em casa também não tem massa. Na rua, se um dia eu quiser comer um espaguete com frutos do mar, não tem problema uma vez ou outra. Gosto de hambúrguer e esse mês comi um dia. Mas não como todo dia. Não tomo remédio e não tenho dor de cabeça. Isso tem a ver com a minha alimentação e a minha atividade física. Faço com que meu corpo não esteja em estado de inflamação. É muito raro eu ficar doente.
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Quais são os exercícios físicos que você faz?
Intervalo o jiu-jítsu com o boxe. Tenho um saco de boxe na minha varanda de casa. Faço 12 rounds de 3 minutos para 1 de intervalo. São 48 minutos de treino puxado. Quando estou gravando, treino umas quatro vezes por semana, quando não estou, treino seis vezes na semana. Quando não estou gravando também faço duas vezes na semana uma musculação de resistência muscular para deixar a minha musculatura apta para aguentar o treinamento. É uma série de 29 repetições de toda a musculatura, demoro 20 minutos para começar e terminar isso aí. Duas vezes na semana já é suficiente. Às vezes, consigo fazer três. Geralmente faço depois do treino de boxe. Faço aqui na academia do prédio, o professor vem aqui.
Era muito ansioso antes, criava muita expectativa. Hoje não crio mais, faço o possível para conseguir resultados que vão ser bons em todas as esferas da minha vida, sejam profissionais ou pessoais
Você e a Kyra vão celebrar a união no próximo dia 12 de outubro, em Fernando de Noronha. Como vai ser?
Vamos fazer uma festa, porque na verdade já somos casados. Vai ser no meio da novela, em Noronha. Queremos festejar a união que deu certo. Vamos pegar os nossos amigos mais íntimos e a nossa família e vamos para um lugar maneiríssimo, que a gente gosta, que tem a ver com a gente, que tem a energia que a gente quer imprimir para a festa. E Fernando de Noronha é um lugar que a gente se identifica muito por tudo: pela energia, pelas pessoas de lá. É isso que a gente quer proporcionar para os nossos convidados: ‘você não está indo para uma festa de casamento, você está indo para uma viagem com pessoas que você gosta também, você está confraternizando um momento que não se restringe só à festa’.
Vai ser para quantas pessoas? Está ansioso?
A gente pensou que fosse ser bem íntimo. Imaginávamos que seria para 70 pessoas, mas já tem 190 confirmados [risos]. Eu acho que vai ser do cacete, muito legal, irado. Hoje sou, por personalidade, uma pessoa muito tranquila. Consegui - durante anos trabalhando - diminuir a minha ansiedade. Era muito ansioso antes, criava muita expectativa. Hoje não crio mais, faço o possível para conseguir resultados que vão ser bons em todas as esferas da minha vida, sejam profissionais ou pessoais. Vivo o momento, me planejando, olhando o passado para ver o que errei e no que posso melhorar e vivendo o que está acontecendo agora para aproveitar também. Porque se você fica com a sua cabeça no passado, você fica triste porque pensa em uma coisa que foi boa e não volta mais, e se fica com a cabeça no futuro você esquece de viver o agora e gera ansiedade. O passado te dá base, você observa ele para se planejar, e você vive o momento com o que você tem na mão. A única coisa que eu não deixei foi de roer as unhas [risos].
EQUIPE
Fotos: Dessa Pires (@_dessapires)
Beleza: Yago Maia (@yago_maia_)
Styling: Guilherme Albinno (@guilhermealbinno)