Leo Jaime está cansado de dar entrevistas falando sobre os outros. Acha que não precisa mais discorrer sobre as histórias que viveu com amigos famosos e ex-namoradas. Aos 54 anos e com 30 de carreira, já não lhe falta maturidade nem personalidade para dirigir sua vida. À vontade dele somou-se a determinação de QUEM em revelar o lado mais pessoal da história do cantor, ator, jornalista e escritor: um pedaço de vida que só poucos amigos e familiares conhecem.
Após o sucesso na década de 80 no rock, ele amargou anos difíceis sem gravar e descobriu ter pan-hipopituitarismo, doença na hipófise que causa descontrole hormonal. “No Brasil você faz uma coisa, dá certo e acabou. No dia seguinte, volta ao zero ”, lamenta. Leo sentiu o golpe, mas não se entregou. Voltou a tocar em bares e se reconstruiu. Hoje, trabalha em várias atividades. No ar como o roqueiro Nando Rocha, em Malhação, ele produz a próxima temporada de Amor & Sexo, vai lançar o livro Cabeça de Homem, em novembro, e ensaia novo show. Sua grande virada foi há dez anos, quando conheceu a psicóloga Daniela Lux, de 35 anos, com quem se casou e teve Davi, de 7. E aí, enfim, descobriu a felicidade: “Me motivo pelo amor enorme que tenho por minha família.”
Não foi uma escolha casar mais velho, nem acho que tenha sido positivo. Uma das coisas que eu posso talvez lamentar em minha trajetória é que eu não tinha sorte no amor, não era feliz"
QUEM: Você está completando 30 anos de carreira. Fez seu balanço de vida?
LEO JAIME: Não sou campeão de nada, mas consegui fazer coisas das quais me orgulho. Angariar afetos e talvez aplausos íntimos, o meu mesmo, do meu filho, da minha mulher, dos meus amigos, são para mim hoje mais importantes do que medalhas. Vivo do aplauso. Se não tiver alguém gostando de alguma coisa que faço, estou desempregado, mas não construo a carreira nos moldes tradicionais do sucesso.
QUEM: Você é cantor, ator, jornalista, escritor. Agora está no ar em Malhação. Como é voltar a atuar?
LJ: Gosto de tudo o que faço e tenho a sorte de ser convidado para coisas que têm a ver comigo. O complicado é fazer ao mesmo tempo, tudo exige um preparo, não é só chegar e fazer. Estou gravando a novela, escrevendo a trilha sonora da nova temporada de Amor & Sexo, e ensaiando show novo.
QUEM: Então o balanço é bastante positivo?
LJ: Não é tão positivo. Tive bons e maus momentos, erros e acertos. Sou uma invenção de mim mesmo. Sou íntegro, honesto, tenho orgulho de não ter feito besteira, de não ter sido sacana... Passo pelos lugares e as pessoas abrem um sorriso. Isso é uma conquista. Não tenho patrimônio talvez por ter focado em outras coisas, em ser sincero, coerente. Mas muita coisa que fiz foi desvio, perda de tempo.
QUEM: Como o quê?
LJ: Uma época em que trabalhei no (clube de futebol) Flamengo foi um período infeliz. Eu era superintendente social, tinha que organizar eventos. Foi honesto, mas não tinha a ver comigo. Era um momento em que a música não estava legal, parecia que as portas estavam fechadas. Depois, morando em São Paulo, fui gravar disco, mas a gravadora que me contratou faliu. Aí fui voltando para o fim da fila. Minha vida foi uma sequência de perrengues. Não tive um momento fácil, nem hoje nem nunca.
QUEM: Entrou em depressão?
LJ: Claro. Esse momento em São Paulo, por exemplo, foi complicado. Eu estava lidando com problemas físicos, descobri a doença (pan-hipopituitarismo). Todos os hormônios são relacionados a emoções. Até achar o tratamento certo, eu já tinha engordado, tomado cortisona sem precisar, o que me fez inchar.
QUEM: Como você está de saúde?
LJ: A doença está totalmente controlada, tomo hormônio para tireoide e testosterona. Eu parei de tomar o GH (hormônio do crescimento) um tempo atrás, pois não estava tendo benefício nenhum. E hoje, por exemplo, se eu quisesse engravidar a minha mulher, teria que começar um tratamento. Cheguei a fazer há um tempo, mas aí não rolou a gravidez e então eu parei.
QUEM: A questão da forma física o incomoda?
LJ: Incomoda, sim. Ganho muito menos em qualquer trabalho que eu faça em função da minha forma física. Isso é óbvio. Você quer saber quem ganha bem? Olha quem é mais bonito, esse é o cara que ganha melhor. Dito isso, o talento é um detalhe que não faz a menor diferença, o que vai definir é o capital sexual.
QUEM: Você chegou a viver o lema “sexo, drogas e rock’n’roll”?
LJ: Todo mundo do meio conviveu com isso: meteu a cara ou teve amigos envolvidos. Houve quem metesse o pé na jaca, mas o fato é que nunca me identifiquei muito com essa história. Um pessoal até chamou a gente de rock de bermudas, dizendo que era sexo, milk-shake e rock’n’roll.
QUEM: Você conseguiu se manter longe das drogas?
LJ: Tive minhas experiências e por isso posso dizer com propriedade que acho um horror. Fico arrepiado só de pensar em coisas assim: cocaína é um negócio que... Argh! Sinto um mal-estar só de pensar no assunto. E hoje nem birita! Adoro vinho. Mas não gosto de ficar bêbado. O estado alterado de consciência não me seduz nem um pouco.
QUEM: Você se casou aos 44 anos. Por que acha ter demorado tanto?
LJ: Não foi uma escolha casar mais velho, nem acho que tenha sido positivo. Uma das coisas que eu posso talvez lamentar em minha trajetória é que eu não tinha sorte no amor, não era feliz. Meus amigos, durante o tempo em que fui solteiro, já eram casados. Não sou de boate, nunca fui. Nem sei passar uma cantada! Sempre fui uma negação nessa área.
QUEM: Mas namorou bastante...
LJ: O que importa não é a quantidade de histórias que se tem, mas a qualidade. E isso faz com que a amiga recomende você para a outra. Acho que não pode existir uma meta tipo “vou comer gente”.
QUEM: Como você conheceu sua mulher?
LJ: Foi engraçado. Ela é irmã gêmea da minha fisioterapeuta, mas eu não a conhecia. Um dia, a Daniela apareceu no meu show, bati o olho e confundi as duas: “Tem alguma coisa errada com você”. Ela ficou brincando, me enganando, até que me explicou que era a irmã gêmea. Rolou uma empatia instantânea. E daí eu parti para cima. Seis meses depois, nós começamos a namorar e nos casamos um ano mais tarde. Quando eu me decidi, pensei: “Ufa, achei, agora vamos!”. E já estamos juntos há dez anos...
Minha infância foi uma merda, mas a infância com o meu filho, que é a minha nova infância, é uma maravilha, é muito divertida mesmo"
QUEM: Então podemos dizer que foi amor à segunda vista...
LJ: (risos) É curioso isso. Fica essa lição, né? É pela questão física? Claro que sim. Mas também não! Tem alguma coisa que não é por causa daquele olho, daquele nariz, daquela boca. É pela pessoa, algo que aquela pessoa tem e a outra não.
QUEM: Você admite ter uma relação conflituosa com seus pais mas não gosta de falar sobre isso. Com esse histórico, como consegue ser um bom pai para o Davi?
LJ: Consigo porque aprendo, faço terapia, olho, experimento, erro... Acho que é um percurso longo, queria que não fosse tanto, nem tão difícil. Mas meu filho fala que eu sou o melhor pai do mundo.
QUEM: Depois do nascimento do seu filho, a relação com seus pais melhorou de alguma maneira?
LJ: Melhorou a compreensão sobre a minha história com cada um dos dois. Tem uma frase que é assim: “Os pais fazem o que eles podem”. Na verdade, os pais fazem o que fazem. Por outro lado também há determinadas coisas que me fazem agradecer por não ter sido um pai jovem, pequenos tesouros que, se você não estiver lá, olhando, não existem.
QUEM: Como o quê?
LJ: As brincadeiras, por exemplo. Vejo a minha infância toda de novo ali, reconstruindo com ele a vida... A minha infância foi uma merda, mas a infância com o meu filho, que é a minha nova infância, é uma maravilha, é muito divertida mesmo. Então é interessante porque eu reconstruo a minha vida ajudando o Davi a construir a dele.