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Reynaldo Gianecchini: "Acho que o legal é ficar sozinho"

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Reynaldo Gianecchini (Foto: Lufe Gomes/Revista QUEM)

Lançando um livro sobre sua vida e a luta contra o câncer, Reynaldo Gianecchini falou a QUEM com franqueza sobre ter enfrentado a morte, relembrou a fase de excessos depois do fim do casamento com Marília Gabriela e afirmou que está solteiro e que acha que vive bem sem companhia: “Sou muito solto na vida”

“Caramba, me arrepiei de novo. Olha!” É assim, mostrando os pelos do braço levantados, que Reynaldo Gianecchini relembra fatos importantes de sua vida a QUEM. Lançando o livro "Giane – Vida, Arte e Luta", escrito pelo jornalista Guilherme Fiuza, o ator encontrou-se com a equipe da revista no Espaço Villa Vérico, no Itaim Bibi, em São Paulo, durante uma folga das gravações da novela "Guerra dos Sexos". “Nunca quis, com o livro, me enaltecer. Queria mostrar defeitos, limitações, momentos de mau humor...”

Reynaldo Gianecchini (Foto: Lufe Gomes/Revista QUEM)

A obra traz um pouco de tudo: a infância em Birigui, no interior de São Paulo, e o relacionamento com a mãe, Heloísa, e com o pai, Reynaldo, que morreu no final do ano passado, vítima de câncer. Na mesma época, Giane travava sua própria batalha contra a doença, um linfoma que havia sido diagnosticado em agosto de 2011. Nesta entrevista, ele relembra a luta contra o câncer, fala com carinho de seu casamento com Marília Gabriela, conta a maneira como reage a boatos sobre sua vida pessoal e como encara a vida aos 40 anos: “Eu preciso viver o presente com o maior prazer”.

QUEM: Você sempre se mostrou muito otimista. Mas, no livro, admite que pensou que poderia morrer, que sua hora poderia ter chegado...
REYNALDO GIANECCHINI:
A morte é certa. Mas sempre achamos que não é uma verdade nossa. Quando recebi o diagnóstico, eu só pensava que era muito cedo para morrer, mas em algum momento da vida eu iria passar por isso. Por essa solidão. A morte te coloca em contato com sua solidão. É seu caminho. Você pode estar rodeado de gente querida, mas aquele momento é seu. E esse contato com a morte veio mais cedo para mim.

QUEM: Isso o fez mudar?
RG:
Graças a Deus, eu não morri, pois adoro a vida! Mas, hoje em dia, venho pensando muito nisso: em viver absolutamente o presente, com prazer, pois não sei do amanhã. Não conto mais com o amanhã. Eu preciso viver o presente com o maior prazer. Mesmo em uma situação de estresse, quero transformar aquele meu dia em um momento de prazer. Não faço mais planos a longo prazo. A morte se fez presente em minha vida e achei muito bom.

CLIQUE AQUI (Foto: Revista QUEM)

QUEM: Bom em que sentido?
RG:
Hoje, me ligo nas coisas que preciso. Claro que xingo no trânsito, às vezes não tenho paciência com as pessoas... Mas levanto todo dia com o firme intuito de ter prazer no meu dia. Preciso encontrar uma graça no que estou vivendo. E, hoje em dia, meu tempo de recuperação do estresse é muito rápido. Não quero dar importância para bobagem. A gente se chateia com tanta coisa na vida... E, no fim, nada tem muita importância. Esse é um exercício diário. Eu chamo a felicidade para mim a toda hora. Estou muito atento. É isso, estou mais atento.

QUEM: Sua mãe, Heloísa, é citada frequentemente no livro. Em certo momento, antes do diagnóstico do câncer, você tenta poupá-la, dizendo que tinha “só uns carocinhos”. Como foi dar a notícia a ela?
RG:
Não dá muito tempo para pensar. É tudo tão rápido, tão intenso, que não tive tempo! Recebi a notícia pelo telefone. Estava no meu quarto e minha mãe, no fogão, fazendo comida para mim. Tive 10 segundos, o trajeto do meu quarto até a cozinha. E só passava pela minha cabeça: “Caramba, mais uma para a minha mãe! O marido dela condenado (Reynaldo já lutava contra o câncer no pâncreas), a mãe dela com Alzheimer...”. Eu só pensei nisso. Mas não tinha muito tempo. Cheguei na cozinha e disse: “Mãe, eu preciso ir para o hospital. O médico acabou de falar que estou com câncer”. Não tem tempo para rodeio. A gente foi para o hospital em absoluto silêncio. Parece que abre um buraco no chão.

QUEM: A relação com seu pai é descrita, em um primeiro momento, como um pouco mais distante. Mas você conta sobre um momento em que você ficou doente e ele foi cuidar de você, passando pomada em seu corpo, quando teve uma síndrome alérgica em 2008 que o deixou cheio de marcas...
RG:
É lindo. Um momento que ficou na minha cabeça. Foi um momento de conexão com meu pai. Lá, eu senti que é quase como se todo o tempo de ausência da gente não tivesse tido a menor importância. Foi como se tivesse curado toda a falta que existiu anteriormente. Daquela vez que ele foi lá para cuidar de mim, quando ele foi embora, pela primeira vez eu senti um vazio! Falei: “Caraca, estava muito bom meu pai aqui comigo!”. Dali, mudou muita coisa. E, na morte dele, o período que antecedeu... Me reaproximei ainda mais e foi muito especial. Lembro dele doente e eu sentado a seu lado, vendo futebol, que eu odiava! E me interessei em assistir ao futebol por estar ali, com ele.

O ator com sua biografia (Foto: Lufe Gomes/Revista QUEM)

 

QUEM: Você citou, na biografia, que ouviu uma voz que te disse, por exemplo, que você venceria a doença. Como é isso?
RG:
Não é físico. Não é que eu ouço, como se estivesse falando com alguém ou com um espírito. Mas é uma intuição muito forte. Algo que tenho dentro de mim. Tive muita certeza dos caminhos que eu tinha que seguir. A vida sempre nos coloca em encruzilhadas. E sempre me senti protegido para tomar essas decisões. E é sempre como se eu tivesse uma voz dizendo: “Vai aqui para você ver. Aqui é o caminho”. E isso desde pequeno.

QUEM: Você cita algumas vezes a solidão. Ela o assusta?
RG:
Desde pequeno, não tenho medo da solidão. Descobri, muito cedo, que a gente é sozinho. Chego à conclusão, cada vez mais, que meu lance é ficar sozinho mesmo. Vejo algumas pessoas entrando numa relação atrás da outra e penso “como as pessoas conseguem achar?”. Para mim, é muito difícil. E eu fico muito bem sozinho. Não estou namorando ninguém. Eu sou muito solto na vida. Não sou de ter amarras. Acho que o legal é ficar sozinho mesmo. Ao mesmo tempo em que tenho muito carinho e gosto das pessoas, estou sempre pronto para fazer minha mala e ir embora. É difícil eu me prender. Para eu estar na relação, tem que ser muito incrível, como foi meu casamento com a Marília (Gabriela).

QUEM: O capítulo sobre o fim do casamento de vocês dois é muito intenso.
RG:
Acho que é o capítulo que mais me emociona. O fim do meu casamento foi... muito lindo (eles ficaram juntos por oito anos, até 2006). Foi de um companheirismo... é assim que tem que ser.  Caramba, me arrepiei de novo, olha (mostra o braço)! Só de lembrar me arrepia. Um relacionamento daquele você não acha a toda hora. Então, prefiro ficar sozinho. É uma delicinha ter um namorico, é gostoso. Mas, para ter uma relação em que você esteja a fim de dividir mesmo, é bem difícil. A vida pode te pregar surpresas e te apresentar alguém muito maneiro. Mas eu fico muito bem sozinho.

Reynaldo Gianecchini (Foto: Lufe Gomes/Revista QUEM)

QUEM: Na época do casamento, como vocês tratavam o boato de que você teria um caso com o filho caçula da Marília?
RG:
Essa história do filho da Marília, particularmente, foi tão surreal para a gente que era quase engraçada. E sabe que ouvi isso muitas vezes? Era tão absurdo que a gente quase se divertia. Nunca teve a menor importância. Essa história chega a ser bizarra! Mas, depois que me separei, essas coisas começaram a me incomodar um pouco. As pessoas começaram a querer achar uma história para mim de qualquer jeito. Eu estava com todo mundo e de tudo quanto é lado! Se eu fizesse pelo menos 10% do que falam, minha vida seria muito mais divertida (risos)! Mas não posso dar muito peso a isso. E não vou ficar desmentindo essas coisas, senão, iria viver para isso. Não tenho que me justificar para ninguém.

QUEM: Teve um momento, logo depois do fim do casamento, em que você se jogou na noite. Um dos capítulos fala que você tinha experiências de “cama a dois, cama a mais de dois”. O que levou dessa fase?
RG:
Essa fase... foi importante. Muito importante. Foi o momento de ir para o mundo, depois de muito tempo casado. Acho até que isso aconteceu porque pulei aquela etapa de adolescente.

QUEM: Sua primeira vez não foi tão cedo, certo?
RG:
Não. Foi aos 17 anos. E, mesmo assim, sempre fui de namorar. Com 34 anos, com o fim do casamento, me vi com uma vida inteira pela frente, solteiro e, claro, caí de boca na coisa! Fui experimentar a vida a mil por hora. Faz parte. Entendi pra caramba da minha vida depois daquilo. E os excessos são importantes para a gente entender que não precisa deles. Fez quem eu sou hoje, entende? Essa fase de animação e de excessos foi importante. É uma delícia, mas é difícil administrar os excessos. E eu paguei um preço por isso: você fica emocionalmente muito instável. Eu ia da euforia à quase depressão. Mas esses excessos não existem mais na minha vida. Foi divertido, claro. É divertido o “sexo, drogas e rock’n’roll”, apesar de que a única droga que tomo é bebida (alcoólica).

QUEM: Qual é a sua relação com drogas?
RG:
Eu não gosto de drogas. Não é a minha. Minha droga é uma biritinha. E só. Na época dos excessos, quase não tinha tempo para mim... e é importante você ter tempo para tudo: para o amigo, para o trabalho, para a bagunça, para o pilequinho. Tudo! Mas tem que ter uma medida: se for só livro e meditação, fica muito chato (risos). E, se for só a birita, a vida não é feita só disso.

QUEM: Mas você tinha consciência de seu momento, naquela época?
RG:
Eu sempre tive. Sabia que estava passando do ponto. Mas foi necessário esfregar a cara na lama para aprender. E foi ótimo. Não me arrependo. De nada. Mesmo na minha loucura, de estar passando dos limites, eu tinha consciência, eu tinha um olhar muito atento ao que estava aprendendo ali. Tenho orgulho do que passei. E fico vendo as pessoas julgando as outras... isso é péssimo. Vamos viver o necessário. Mas senti, uma hora, que tinha que voltar para a casinha.

QUEM: Existe um momento citado em seu livro sobre um flerte entre você e Carla Bruni, em sua época de modelo.
RG:
Eu era um moleque. Foi em um desfile que fui fazer na Alemanha, em 1998. O mundo da moda é muito louco, muito sedutor. E eu era zero desse mundo. Nessa época, eu só meditava. Foi uma fase de excessos também, mas o excesso de querer se transportar para a montanha e virar o ermitão. O oposto daquele outro excesso da vida louca (risos). Esse era eu, naquele contexto. Então, fui fazer um trabalho, a Carla Bruni estava fazendo o desfile comigo, me pegou e puxou e... e eu não banquei (risos)!

QUEM: E o que acha disso?
RG:
Penso “se fosse hoje, podia ser tão diferente!” (risos). Mas não estava aberto para nada, entende? Poderia ter vivido uma situação incrível com ela! Ela me deu uma condição bacana. Cheia de vida, sensual. Uma das mulheres mais lindas que já vi. Fiquei sem saber o que fazer e, quando vi, deixei passar.

Reynaldo Gianecchini (Foto: Lufe Gomes/Revista QUEM)

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