
Com rosto de menino, mas cheio de atitude e segurança, Jão é a nova cara do pop nacional. Ele representa uma geração destemida, muito consciente do que quer e onde almeja chegar. Aos 24 anos, o cantor, nascido em Américo Brasiliense, município com 38 mil habitantes do interior de São Paulo, acaba de lançar o clipe de Me Beija Com Raiva. A faixa faz parte do ovacionado álbum LOBOS, que já ultrapassou a marca de 100 milhões de streams, sete das dez músicas ficaram entre as 200 mais tocadas do país no Spotify e chegou ao segundo lugar entre os mais vendidos do Itunes Brasil, atrás apenas da estrela internacional Ariana Grande.
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"Eu acho que todas as minhas músicas de antes, mesmo que tristes, elas tinham esse tom mais debochado e irônico. Acho que chegou a hora de abordar algo mais sério, um pouco mais pesado, intenso. Então, esse não é debochado! Esse é uma sofrência pura mesmo! É um vídeo que está muito bonito visualmente. A gente ficou muito preocupado em deixar tudo muito bonito e tendo a ver com a música. Ele é tão intenso quanto a música. Ele é demais. Inclusive, quando essa música foi escrita, eu pensei até em oferecer para outra pessoa. Mas depois que eu cantei, eu falei: 'Não. Essa música é minha e ninguém tasca'", declarou ele à QUEM.
Com direção do seu parceiro musical Pedro Tófani, o mesmo de Imaturo e Vou Morrer Sozinho, as imagens foram registradas ao longo das mais de 14 horas de trabalho, em uma megaprodução, com 60 pessoas envolvidas, não deixando nada a desejar para os vídeos de artistas internacionais. Nas cenas, Jão vive relações intensas entre um homem e uma mulher, característica dúbia também presente em Imaturo, o que fez com que a curiosidade sobre a sua sexualidade fosse despertada no público.
Sem cerimônias, ele abre sua vida pessoal com naturalidade ao afirmar ter escrito a canção autobiográfica a respeito de uma relação homoafetiva. "Escrevi essa música para um cara que fodeu meu coração. É legal que e as pessoas saibam disso, que foi feito para um cara e que isso é uma coisa tão normal como qualquer outra que exista no mundo. Afinal, não deixa de ser sobre a raiva que eu sentia de mim por estar ali naquela situação, algo que todo mundo pode se identificar", acredita.

Aclamado pelo público gay, Jão valoriza muito a diversidade do seu público e a versatilidade da sua música. "Eu sempre tratei com muita naturalidade essa relação, tanto nos meus shows, como quando estou em contato com eles. E acho que eles se sentem abrigados. Acho que isso que as pessoas se identificam. Mas, a minha música é muito universal. Por isso, vejo uma diversidade tão grande das pessoas que me acompanham nos meus shows, que compram meu CD. Sinto a presença nas redes sociais também ou em qualquer lugar que eu vá e eu fico muito honrado. A minha música é para todo mundo. Eu sou Jão e estou mostrando o meu trabalho, procurando o meu espaço", afirma.
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Sofrência pop
"Meu estilo é todo encapado em uma narrativa pop. Acho que no Brasil ainda é muito difícil definir o que é o pop e tem muita coisa acontecendo que pode ser pop. O funk pode ser pop, o sertanejo pode ser pop. Eu acho que a minha narrativa é pop, pelos meus videoclipes, pelas minhas fotos, meu modo de vestir. Eu gosto muito de construir, de mudar e crescer a cada single. Mas eu acho que é bem brasileiro. Eu sempre me preocupei em fazer algo bem brasileiro. Eu sempre ouvi muito os caras lá de fora, mas eu tinha uma preocupação das minhas músicas não soarem como um pop reciclado de lá, porque, às vezes, isso acontece. Tem vários elementos brasileiros nas minhas canções. Eu fazia playlist e ouvia, via vídeos. A gente colocou triângulo, viola, que são instrumentos geralmente não usados em música pop. Eu coloquei os tambores em A Rua, com vozes das mulheres. A gente pode definir meu som como sofrência pop. (risos)."

Ídolos
"Tenho muitas referências musicais. Eu tento pegar um pouquinho de cada pessoa. Eu gosto muito de Marisa Monte, da Marília Mendonça, Cazuza, Amy Winehouse, que eu cantava várias músicas dela antes, do Ed. Sheeran, Sam Smith, Bruno Mars, acho esses caras do pop bem interessantes. Gosto de toda essa galera do pop. Tem muitos artistas que eu gostaria de fazer uma parceria também. Eu gosto muito de Anavitória, de Anitta, da Marília Mendonça, da Marisa Monte, de Shaw Mendes. Eu até postei um print esses dias da conversa que minha mãe mandou para mim dizendo que sonhou que eu encontrava com o Shaw Mendes e a gente cantava junto. Eu gosto muito dele, do Sam Smith, do Ed. Sheeran e do Bruno Mars também. Quem sabe um dia."
Sucesso
"Eu acho que quando as coisas começam a dar frutos é um momento muito especial. Eu tento curtir os momentos. Estou começando, tem muita coisa que eu ainda tenho que aprender. Eu considero que sou um cantor profissional há um ano. Mas teve todo um ensaio muito louco até chegar o que eu sou hoje aqui. Acho que eu tento curtir mais. Eu sei que as coisas são muito difíceis. Tem todo um trampo por trás até chegar a gravar um single e um clipe, que as pessoas não fazem ideia. Quando colho resultados positivos é massa demais. Quando a Marília Mendonça me mandou mensagem dizendo que curte meu som, eu fiquei muito contente. Foi massa demais. Eu tive uma dimensão do alcance da minha música."

Compositor
“Eu gosto. Eu acho importante eu pensar em algo, conseguir escrever e me expressar. Mas eu não condeno quem não compõe e se chegasse uma música muito foda de outra pessoa, eu não pensaria duas vezes em gravar. Acho que quando a gente compõe, fica mais seletivo, porque a gente já tem nossos cacuetes e manias. Mas quando a música é muito boa ela ultrapassa isso. Eu tenho bastante domínio sobre a criação dos meus trabalhos. A gravadora é bem massa nesse sentido. Ela me deixa muito livre nesse sentido. Eu trabalho junto com o Pedro Tófani. Ele compõe tudo comigo. Ele faz toda a parte criativa e visual comigo. A gente fica trocando ideia o dia inteiro e fica pirando.”
Paixão pela música
"Minha família sempre foi festeira e todo mundo canta um pouco, mas ninguém canta profissionalmente além de mim e uma prima que canta gospel. Eu sempre fui apaixonado por música desde criança. Quando era pequeno, eu me resguardava muito no meu quarto e pegava os discos da minhãe para ficar ouvindo. Acho que eu comecei a aprender a gostar de música assim. Eu não entendia muito bem o conceito de música, mas sabia que eu queria trabalhar com aquilo. Eu já tentava imitar os cantores. A música foi virando um lugar, um abrigo para mim, desde muito novo. Quando eu me tornei adolescente, eu comecei a buscar os artistas que eu gostava, ir a shows, assistir aos videoclipes, consumir a arte deles. Eu sempre gostei tanto da parte musical quanto da indústria por trás da música e do entretenimento."

Autodidata
"Como eu não tinha ninguém para me ensinar nada, eu comecei a tocar instrumentos sozinho, a produzir alguma coisinha ou outra. Na escola, eu participava de pequenos festivais de bandinhas e tal. Quando eu mudei para São Paulo, com 17 anos, para estudar Publicidade, que eu ainda não me formei, mas pretendo, que começou de fato a minha carreira artística. Eu rodava os karaokês da cidade, tudo bem trash. Eu obrigava as pessoas a me ouvirem. Ninguém estava lá para ver um show sério. As pessoas iam lá só para ficar bebendo e zoando e eu exigia que todo mundo parasse e me ouvisse. E tinha umas cinco pessoas no máximo na 'plateia'. Foi um período da minha vida, mas eu vi que não era um local certo para se começar uma carreira musical (risos)".
Sonho em dominar o mundo
"Eu comecei a lançar vídeos de covers de outros artistas na internet e toda semana eu fazia um diferente e mandava para todas as pessoas que você pode imaginar. Depois de sete meses, a Universal Music me achou. Cantar é o que eu sempre quis para minha vida. Desde criança, eu sempre fui muito ambicioso, de uma maneira saudável, calma (risos). Eu sempre me espelhei em pessoas muito grandes. Eu quero chegar o mais longe possível. Eu quero alcançar o patamar dos maiores caras do Brasil. Se for permitido, dominar o mundo."
