
Fernando Rubro, de 23 anos, já era fã de 3% quando foi escalado para viver o Xavier da série da Netflix, uma das produção originais brasileiras mais vistas no streaming. Com o personagem veio a responsabilidade de ser um protagonista negro. “Desde o dia em que pisei no set, carrego comigo essa responsabilidade de representar milhões de Fernandos por aí”, afirma. “Eu fico muito feliz quando algum fã me escreve dizendo que sonha em atuar e que, quando me vê e conhece minha história, acende uma chama de esperança neles”, conta o ator.
Paulista de Piracicaba, ele era do tipo de criança que se imaginava nos desenhos animados na televisão e que fazia performances cantando no chuveiro. Aos 12 anos, entrou em uma escola de música, depois de passar por cursos e companhias de teatro. Mudou-se para a capital paulista em 2017 para seguir a carreira. “Um dia a ficha caiu que seria essa minha profissão”, lembra ele, que se inspira em nomes como Lázaro Ramos, Taís Araújo e Viola Davis. “Também acho muito interessante o jeito de atuar do Matheus Nachtergaele”, diz.
Ele estreou no audiovisual com 3%, mas já tem outros projetos engatilhados, entre eles A Sogra Perfeita, comédia com Cacau Protásio. “Acho mais difícil fazer uma pessoa rir do que chorar, então foi um grande aprendizado e uma experiência muito bacana”, conta Fernando, que só tem elogios à atriz. “Cacau é uma deusa em cena, ela comanda tudo e manda muito bem no improviso. Ela me guiava algumas vezes e me deixa muito à vontade”, lembra.
Virginiano “raiz”, como ele mesmo diz, Fernando é solteiro e “baladeiro” em tempos não pandêmicos – na quarentena, ele voltou a desenhar, cantar e a estudar instrumentos musicais. O ator acredita que, até uma vacina contra a Covid-19 estar disponível, é preciso cuidar de si e dos outros. “Vamos nos adaptando e nos protegendo o máximo possível”, pondera.

O que pensa do final de 3%? Era o que você esperava?
Era sim. Eu fiquei muito feliz com o final da série. Não faria sentido pela crítica que 3% traz, ter um 'final feliz'. Acredito que o destino daquelas pessoas fosse realmente estar numa igualdade, talvez não devesse existir divisões de lugares. Quando eu olho pra cena final e vejo todas aquelas pessoas, tão diferentes uma das outras, de classes sociais diferentes, me dá uma sensação de vitória, a vitória de uma batalha. Porque mesmo com suas diferenças, todas aquelas pessoas estão dispostas a construir algo novo e um lugar melhor.
Como você chegou a 3%?
Eu tinha acabado de maratonar as duas primeiras temporadas e, um mês depois, recebi um e-mail pra fazer uma self-tape para uma série da Netflix. Fiz o teste sem saber para qual série seria, e apenas quando passei pra segunda fase descobri que era pra 3% e aí a ansiedade aumentou. Foram quatro testes ao todo, um processo bem legal.
Fazer sua estreia no audiovisual na série brasileira mais vista da Netflix no mundo te assustou?
Muito! A minha ficha caiu quando recebi mensagens de fãs da série de Chicago, Equador, França… Até então, eu tinha noção da magnitude da série, mas quando você presencia isso é muito surreal! E uma sensação de orgulho, ao mesmo tempo, por fazer parte de uma série que conquistou fãs em diversos lugares do mundo.

Como foi entrar em uma produção tão bem-sucedida já no meio do caminho (terceira temporada)?
A princípio foi um susto, pois tudo aconteceu muito rápido. Acho que o desafio maior foi entender a dinâmica do elenco, do set, e o que os diretores queriam. O elenco me ajudou muito, desde o primeiro dia eu me senti muito bem acolhido, me deixaram bem à vontade. Lembro que um dos meus medos era a crítica dos fãs, pois um personagem novo que chega no meio de uma série pode ou não cair na graça do público, mas ainda bem que deu certo (risos).
Esperava ter tanto protagonismo em 3%? Sua carga de trabalho aumentou da terceira temporada para a quarta, como foi essa transição?
Quando terminou a terceira temporada, eu ficava imaginando o que seria do Xavier na próxima temporada da série, algumas coisas eu acertei e outras foram surpresa. Eu fiquei muito feliz quando li o roteiro e percebi o desenvolvimento do personagem, tive uma oportunidade de me desafiar e, assim como o Xavier, encarar meus medos.
Falando em protagonismo, Xavier é um dos raros protagonistas negros no audiovisual. Acha que essa oportunidade teria sido possível há cinco anos?
Com certeza os tempos hoje são outros. Há, sim, uma inserção maior de artistas negros em papéis de destaque, e isso é resultado de toda uma luta por visibilidade que ainda está longe de acabar. Mas acredito que muitos produtos do audiovisual estão tendo esse olhar para a diversidade - e isso já é um grande avanço para todos nós.

A gente sabe que a representatividade importa. Sente essa 'responsabilidade'?
Desde o dia que pisei no set eu carrego comigo essa responsabilidade, de representar milhões de Fernandos por aí. Eu fico muito feliz quando algum fã me escreve dizendo que sonha em atuar e que, quando me vê e conhece minha história, acende uma chama de esperança neles. Eu adoro conversar com eles sobre isso, pois acredito que o mesmo que aconteceu comigo, irá acontecer com muitos outros. Sabemos que é difícil, assim como toda profissão, mas às vezes ter alguém que te inspira torna as coisas mais fáceis. E assim como eu tenho alguns artistas como inspirações minhas, hoje poder ser a inspiração pra alguém já vale todo o meu trabalho.
Que lição acha que a série deixa para o público – vivemos em um mundo em que essa “divisão” Continente/Maralto está cada vez mais dura…
Acredito que a série nos faz refletir sobre as consequências dessa divisão, uma vez que, infelizmente, temos ela estabelecida. Na história vemos todas as injustiças que acontecem e percebemos que o que é justo não é necessariamente bom para os dois lados. Tiramos a conclusão de que não haverá um final feliz, mas sim uma busca por mudanças, indo aos poucos percebendo que as divisões não valem a pena.
O que pode adiantar sobre A Sogra Perfeita, com Cacau Protásio?
A Sogra Perfeita é um filme pra toda família, uma comédia leve, com um toque de drama e, com certeza, vai garantir muitas risadas. O filme conta a história de Neide, feita pela Cacau, e como é sua relação com um filho mais velho que não sai da barra da saia da mãe – ao passo que o mais novo já tem uma vida encaminhada e fora da casa dela.

Já tinha experiência com comédia?
A comédia é um gênero que, embora nunca trabalhado antes, eu admiro muito e pelo qual tenho muita simpatia. Acho mais difícil fazer uma pessoa rir do que chorar, então foi um grande aprendizado e uma experiência muito bacana. Cacau é uma deusa em cena, ela comanda tudo e manda muito bem no improviso. Ela me guiava algumas vezes e me deixa muito à vontade. Gostaria de fazer mais trabalhos com Cacau.
Quais seus próximos projetos? Gostaria de continuar no streaming?
Tenho duas peças em fase de desenvolvimento, mas são projetos pessoais. O cinema despertou em mim o desejo grande de estar mais vezes nas telas. Eu gostaria muito de fazer mais produções, não só para a Netflix, mas tantos outros streamings por aí.
De onde veio a vontade de ser ator?
Eu sempre fui uma criança que, ao invés de jogar bola, queria ficar assistindo desenho e me imaginando ser um dos personagens. Eu amava ver Super Choque. Ficava cantando e performando no banheiro (risos). Aliás, eu comecei no teatro através da música. Aos 12 meus pais me matricularam na minha primeira escola de música, e aí passei a estudar canto coral e canto popular.
Quando mudou para a interpretação?
Foram alguns anos cantando em apresentações de escola, festas da cidade e, ao longo desse processo, acho que senti essa necessidade de me expressar para além do canto. A princípio fazia teatro por hobby e cada vez mais me via envolvido. Passei por companhias de teatro da minha cidade, Piracicaba, viajei realizando apresentações e, finalmente, um dia a ficha caiu que seria essa minha profissão. Então me mudei pra São Paulo em 2017 para me profissionalizar.
Em quem você se espelha na sua profissão?
Tenho muitos, e cada um tem um motivo especial. Acho muito interessante o jeito de atuar do Matheus Nachtergaele, me inspiro na potência do Lázaro Ramos e da Tais Araújo, e também na força da Viola Davis, dentre tantos outros.
Como é sua vida fora do trabalho?
Eu sou um virginiano raiz, solteiro, aventureiro, não gosto muito de rotina, gosto das circunstâncias da vida. Moro em São Paulo há três anos e ainda não me acostumei com o frio dessa cidade. Em tempos 'não pandêmicos', eu sou baladeiro, gosto de visitar meus amigos, ir a teatros, cinemas, fazer noite de jogos em casa. Estou perdendo o medo de voar, então em breve poderei dizer que amo viajar (risos).
Como foi sua quarentena? O que aprendeu dentro de casa?
Foram dias e dias. Alguns mais produtivos que outros e acho importante respeitarmos nossos momentos. É um período em que nos adaptamos ao que está acontecendo. Têm pessoas que precisam trabalhar, sair todos os dias, então a questão é como protegê-las ao máximo e também nos proteger. Eu relembrei que amo paisagens em P&B, fiz algumas imagens a lápis (uso lápis HB e lápis H, grafite 2.0mm e giz de cera preto) e em breve vou enquadrá-las. Aproveitei para estudar instrumentos musicais, canto e ler bastante. Acredito que a esperança seja a vacina e, até lá, vamos nos adaptando e nos protegendo o máximo possível.
