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Quitéria Chagas terá último Carnaval na avenida: "Represento a mulher pioneira"

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Quitéria Chagas se desde de Carnaval (Foto: Priscilla Schmütz/Divulgação)


 

Quitéria Chagas, de 39 anos de idade, vai se despedir do posto de rainha de bateria da Império Serrano no Carnaval do Rio de Janeiro neste ano em grande estilo, com um samba enredo que define o seu posicionamento diante da vida. A carioca conta que sempre teve o empoderamento que será contado por meio da canção do carnavalesco Junior Pernambucano Lugar de Mulher é Onde Ela Quiser.


 

"Eu brinco que sou empoderada desde que nasci porque nasci sozinha. Minha mãe estava na reta final e lutando caratê. Ela e meu pai eram faixas pretas. Nessa coisa de abrir e fechar a perna, a bolsa estourou e ela foi de quimono para o hospital. Enquanto ela esperava o médico, sentiu uma força e quando levantou o corpo da cama, eu nasci. Ouvir essa história do meu nascimento sempre me empoderou. Na década de 80, a minha mãe já participava da Seleção Brasileira de Caratê. Mesmo não tendo tanta consciência do que era feminismo, essa questão sempre foi latente na minha vida. Sempre tive essa referência na vida e a ideia de que tudo era possível", relembra.

Isso a ajudou a encarar inclusive o preconceito que sofreu quando começou a tentar um espaço como atriz. Quitéria ouvia muitos "nãos" e comentários racistas.

"Na época que comecei, não tinha negras fazendo capas de revistas ou personagens de destaque na TV. A que tinha mais destaque era a Valéria Valenssa, uma bailarina fabulosa, mas que sofria críticas por estar pelada. Me formei em teatro e dança, mas só encontrava barreiras quando ia procurar um emprego. Falavam que eu não tinha o perfil porque era negra e negros não faziam comerciais... Já ouvi que tinha o cabelo duro, nariz largo demais. Chorei algumas vezes, mas sempre levantei a cabeça. Nunca deixei o opressor me oprimir de fato", conta ela, que além de conquistar seu espaço como atriz, se formou em Psicologia e em doula.

Quitéria Chagas é rainha de bateria da Império Serrano (Foto: Priscilla Schmütz/Divulgação)


 

Em seu último ano na Avenida, Quitéria representa a Mulher Diaba, apelido dado a Leolinda Daltro, professora, sufragista e indigenista brasileira que lutou pela autonomia das mulheres.

"Esse enredo tem tudo a ver comigo. Represento essa mulher pioneira, que fundou o primeiro partido feminista e que lutou para que as mulheres pudessem votar no Brasil. Ela era professora, desquitada, uma mulher muito para frente. Por isso, minha fantasia vai ser um pouco mais ousada. Ela vai representar essa mulher que não tinha medo de julgamentos", explica.

Ela se sente mais bonita do que nunca neste Carnaval. Após dar á luz Elena, de 4 anos, Quitéria recuperou a boa forma rapidamente. "Estou achando meu corpo melhor agora do que na minha adolescência. Esse corpo é fruto do parto natural e da amamentação sob demanda, que ajudaram na minha recuperação rápida. Na época tive que questionar os médicos com os meus conhecimentos de doulas. Eles queriam induzir o parto, mas eu esperei a hora certa dela nascer, que foi quando estava com 43 semanas. Tive que descontruir muitas coisas para ter esse parto natural. A alimentação sob demanda foi outro tabu. Fiquei disponível até ela desmamar por conta própria um ano e um mês após seu nascimento. Eu dormia agarrada a minha filha em um sling para que ela pudesse pegar o peito quando quisesse. Essa sucção do peito contrai o útero e a barriga vai voltando aos poucos", conta.

Com procedimentos estéticos e exercícios físicos, Quitéria conseguiu a barriga trincada que sempre sonhou. "Meu braço e rosto secaram quando ela acabou de mamar. E a minha alimentação acabou reduzindo, como se tivesse feito um reequilíbrio hormonal. Não fico mais inchada no abdômen. Só que quando emagreci, fiquei flácida. Fiz umas tratamentos estéticos e a musculatura foi fortalecendo. Daí comecei a pegar pesado na academia. Agora treino todos os dias e faço cem abdominais por treino."

Quitéria Chagas se prepara para Carnaval no Rio (Foto: Priscilla Schmütz/Divulgação)


 

Quitéria também colocou próteses nos seios. Ela conta que tinha perdido a sensibilidade nas mamas por causa da flacidez. "Engordei 90 quilos na gravidez e fiquei com o barrigão gigante, do jeito que eu queria, mas quando emagreci, fiquei muito flácida. Perdi a sensibilidade dos seios, que ficaram caídos e murchos. Pensei: não sou obrigada a aceitar isso e resolvi colocar silicone nos seios. E tem tabu com isso também. As pessoas falavam para eu não colocar, deixar os seios naturais. Mas não estava me sentindo confortável daquele jeito e coloquei 350 ml de silicone. A gente é livre para ser quem quiser", conta ela sobre a cirurgia realizada em novembro.

"Aumentou muito a minha autoestima. Me sinto mais sensual agora. Antes, se eu queria colocar uma roupa mais decotada, tinha que colocar adesivo ou elástico. Não queria mais esse sofrimento. E no final, resgatei a sensibilidade. Estou amando."

PLANOS PÓS CARNAVAL
Morando em Milão, na Itália, com a filha e o marido italiano Francesco Locati, Quitéria quer se dedicar aos estudos após o Carnaval.

"Morar fora e ser rainha de bateria de uma escola no Brasil é uma logística muito complicada. O posto de rainha de bateria não é reconhecido como quesito e tem exigências que saem do meu bolso, como viagens, looks etc. Só consegui vir duas vezes para cá. A escola e comunidade são muito carinhosos comigo e me entendem, mas queria ter tido a chance de ter estado mais vezes por aqui. Após o Carnaval, quero voltar para a Itália, cuidar da minha família, que estou sem ver há um mês, e validar o meu diploma de Psicologia lá para conseguir ajudar as brasileiras que vão dar à luz na Itália, mas que ainda têm medo do parto natural", almeja.

Mais um filho? Quitéria por enquanto descarta a possibilidade. "Eu até queria ter outro filho porque o parto foi uma experiência maravilhosa. Mas não tenho babá, eu e meu marido que cuidados da nossa filha. Só contamos com uma ajuda por algumas horas para podermos fazer os programas a dois. Se eu tivesse esse segundo filho, teria que parar por mais três anos como fiz a minha filha. Isso iria atrapalhar a minha faculdade. O bebê depende da mãe. Entendo quem não pode se dedicar ao bebê ou não quer. Mas eu quero estar perto e participar."

Quitéria Chagas se prepara para Carnaval no Rio (Foto: Priscilla Schmütz/Divulgação)


 


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