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Marisa Orth: "Sofria bullying por ser exibida"

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Marisa Orth (Foto: Márcia Tavares)

Exuberante. Esta é a palavra que define Marisa Orth ao receber QUEM em sua casa, no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo. Alta, com as famosas e longas pernas em um jeans justo, ela fala, gesticula e, sem fazer força, atrai todas as atenções. “Aos 6 anos, tive uma briga horrorosa com uma menina da rua que disse que queria ser veterinária. Achei que ela estava mentindo. Achava que não era possível alguém escolher fazer veterinária! Sacanagem! Só tinha uma página colorida nas revistas. E não entendia como as pessoas iam querer ir justamente para a parte preta e branca da vida”, diz a atriz, que mora com o marido, o músico Dalua, e o filho, João, de 14 anos, do relacionamento com o ex, o empresário Evandro Pereira.

O lado mãezona surge quando Marisa faz uma pausa para tirar uma dúvida que o filho tem com a lição de casa. “Olha a altura desse menino! Ele entrou na adolescência e estou adorando”, diz, orgulhosa. “Só acho que, se ele for metade do que fui, estou ferrada. Fui muito chata, bocuda. Dona da verdade. Tive embates horrorosos com meus pais. Uma pentelha”, diverte-se. E foi com esse bom humor que Marisa – que acaba de ganhar o Prêmio QUEM de melhor atriz de teatro, pelo papel de Morticia no musical A Família Addams, em cartaz no Rio – falou sobre o bullying que sofreu na infância, “por ser exibida”, e dos 50 anos, que completa em outubro.

QUEM: Como recebeu a notícia de que ganhou o Prêmio QUEM de melhor atriz de teatro?
Marisa Orth:
Uma felicidade! Eu fico feliz pra caramba. Recebi vários prêmios no início da minha carreira. No começo, quando você se revela, as pessoas gostam de descobrir talentos. Quando você se estabelece – graças a Deus –, todo mundo acha que você não faz mais que sua obrigação ao fazer um bom trabalho (risos). Eu fiquei superfeliz, pois me senti uma novata nesse trabalho. Fui caloura. Sou uma revelação no mundo dos musicais, desculpa (risos)! Já tinha tido vários convites para musicais, mas não aceitava.

Marisa Orth (Foto: Márcia Tavares/Revista QUEM)

QUEM: Mas você trabalhou com música desde o começo, participou do grupo musical Luni,da banda Vexame...
MO:
Mas é por isso! Eu já tinha minha satisfação musical, já tinha meu teatro... E tinha um preconceito, até, com gênero musical. Mas aí veio a palavra-chave: Morticia. Pensei: “Morticia eu tenho que fazer”. E, quando vi o musical Hairspray, amei! Saí cantando. Percebi a empolgação do Miguel Falabella nos musicais e fui ficando tentada! Fui lembrando: fiz tanto balé clássico na minha vida, vi That’s Entertainment! (filme sobre musicais antigos) 11 vezes, seis em um dia e cinco no outro. Direto. Nem saí do cinema. E fui lembrando que tinha um pezinho, na infância, nos musicais. E que depois abafei, pois virei intelectual. O Brasil era uma ditadura: não podia gostar de musical! Era americano! Tive uma formação de esquerda... Mas percebi que todo o lado da esquerda é verdadeiro, todo o lado rock’n’roll é verdadeiro, todo o lado punk, de São Paulo nos anos 80, é verdadeiro. Assim como todo o lado musical também é verdadeiro. Então, integrei tudo: vi que era punk o suficiente, politicamente incorreta o suficiente e musical o suficiente. E fui com tudo!

QUEM: O que você tem da Morticia?
MO:
Usei um pouco da minha maternidade. Ela é muito maternal. E, às vezes, sei ser bem cínica. Gosto desse senso de humor quando você é profundamente agressiva, mas parece calma (risos). Você quer tirar alguém do sério, é isso. É quando eu gosto mais de mim. Sou mais para o quente! Perco as estribeiras. Mas, quando consigo ser cínica, puxar só uma bochechinha de um lado, é um troféu! Penso “ah, eu arrasei”. E acho também que sou sexy. Tento até esfriar mais esse meu lado.

Veja mais (Foto: Revista QUEM)

QUEM: Essa sensualidade vem com você, não precisa fazer força?
Mo:
É...Eu até tento disfarçar essa coisa sexy. Mas é natural, sempre foi. Antes, achava que todo mundo era assim. A vida que me ensinou duramente que não: percebi que o pessoal não achava tão natural falar de sexo ou ser sexy. E eu chamava a atenção, era muito grande. Eu detestava ser grande. Ainda mais mulher. Sabe o que é ser mulher alta no Brasil?

QUEM: Sofria bullying?
MO:
Sim, mas sofria bullying por ser exibida mesmo. Achava que as pessoas eram todas como eu. Aos 4, 5 anos, eu já sabia que era atriz. As pessoas corriam atrás de mim, na escola, dizendo: “Marisa Orth, cadê seu short?”. Eu corria para não apanhar, mas pensava “Marisa Orth é um nome bom. Vai pegar. Não vou precisar trocar” (risos). Sabe que acho que a fama é meio bullying...

Marisa Orth (Foto: Márcia Tavares/Revista QUEM)

QUEM: Como assim?
MO:
É algo que te destaca. Que te deixa em evidência. Que faz com que apontem para você. Mas eu gosto. É o que eu sei fazer. Eu nasci para isso. Tenho essa estrutura dentro de mim. Acho que é uma função que tenho. Sou aquela que puxa papo no elevador. Muitas vezes, eu abordo meu público antes de ele me abordar. Não sou tímida! Graças a Deus. E acho que a melhor defesa é o ataque. Se dizem: “Oi, você não é a Marisa?”, eu já digo: “Sou, e você? Quem é? O que você faz?”. Quando vejo, já me contaram tudo: se ele é gay, se ela traiu o marido ou se fuma maconha. Aí, digo: “Tchau!” e tenho um monte de informação da pessoa. Eu gosto de gente.

QUEM: A Nicinha, sua primeira personagem, em Rainha da Sucata (1990), está no ar novamente no canal pago Viva...
MO:
Tenho dificuldade de me ver na TV. Como todo mundo. Mas gosto de ver a Nicinha. Fico meio chocada como eu era magra. Mas vi muito pouco. Foi minha primeira novela. Ela não era nada. Era um papel mínimo. E não estava previsto na sinopse que ela ia virar aquela vagabunda! Mas eu aparecia sempre na gravação com aquelas saias curtíssimas. Eu, pessoa física, e os diretores adoraram as pernas. Aí, resolveram otimizar o material que eles tinham (risos). Me formei para ser tão intelectual (ela é psicóloga)... E acabei mostrando as pernas (risos)!

QUEM: Qual foi sua personagem mais marcante?
MO:
A Magda (de Sai de Baixo, exibido de 1996 a 2002)! “Cala a boca Magda!” É impressionante! No começo, Magda era tola. E foi virando uma ameba. Ela já não tinha mais xoxota, ela tinha uma cloaca! Ela bebia água da privada. Não tinha mais para onde descer! Mas era de uma espontaneidade, uma alegria, uma coisa de circo que é fascinante. E o burro, como a Magda, é um famoso eterno. A pessoa que vê se acha inteligente. As pessoas pegam amor. E a Magda não era só burra, ela era coração, era sexo e amor...

Marisa Orth (Foto: Márcia Tavares/Revista QUEM)

QUEM: E vai gravar novos episódios para o canal Viva, como está sendo especulado?
MO:
Vamos fazer quatro episódios, em maio. Mas estou preocupada com a roupa, né? Pô, meu, a saia era no meio da bunda dela! E eu era 15 anos mais nova.

QUEM: Neste ano você completa 50 anos...
MO:
Eu não tenho culpa disso (risos)!

QUEM: Mas você está ótima...
MO:
Tô ótima mesmo. Mas é a Magda, né? Aquelas roupinhas... Mas vamos lá fazer de novo. O povo gostou tanto! E minha vaidade é mais pela saúde. É médica. Dermatologista, depois dos 45, a gente leva mais a sério. Mas agora estou emagrecendo para fazer novela. TV engorda muito. Fico vendo Nicinha, Magda e penso “como eu era magrinha!”.

QUEM: Você volta à TV na nova novela das 7, Sangue Bom...
MO:
Sim, já estou gravando. Farei outra louca. Louca de internar. Gosto de TV. Da rapidez, do volume. E tenho medo. É o que você menos ensaia e o que mais gente vê. Chama a Meryl Streep, chama o Anthony Hopkins, chama a Anne Hathaway para gravar uma cena do (capítulo) 4, uma cena do 36 e uma do 12. E achar uma coerência entre eles. Sem ensaio. É muito difícil fazer novela! Ainda mais de uma qualidade como fazemos as novelas brasileiras. Isso ajuda muito o nível dos atores no Brasil. Só aviso ao meu filho e ao Dalua, com quem sou casada, que o assédio, quando fazemos TV, será muito maior...

QUEM: Como é sua vida com o Dalua?
MO:
A gente só não é casado no papel, mas leva uma vida de casado. E estou feliz. Muito feliz.

Marisa Orth (Foto: Márcia Tavares)

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