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Atriz de 'Bom Sucesso' sobre sucesso de personagem lésbica: "Torcida para ela namorar"

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Shirley Cruz interpreta Gláucia em Bom Sucesso (Foto: Victor Affaro/Divulgação)

 

Shirley Cruz tem muitos motivos para celebrar sua personagem de Gláucia, de Bom Sucesso. Um deles é poder quebrar tabus que sociedade ainda tem com a sexualidade, com a sua interpretação de uma mulher lésbica.

 

"Esse é um dos maiores presentes que a Gláucia me traz. Me sinto contribuindo para plantar a empatia e o respeito no coração dos telespectadores", explica ela, que tem recebido um retorno positivo dos telespectadores.

"Em tempos de internet, o retorno é imediato. Sem falar no contato com as pessoas nas ruas. Elas me param e desabafam mesmo. Tem sempre uma história familiar ou de uma amiga para contar. É muito lindo! Tem até torcida para ela namorar, viver um grande amor. No Instagram, até o influencer Hebert Castro, bastante conhecido pela militância LGBTQ, questiona o porque que ela não namora e criou a #namoraglaucia."

Um outro motivo para celebrar é uma questão de retratar uma mulher negra que é bem-sucedida, independente e poderosa. "Já não cabe mais colocar o artista negro numa caixinha e com rótulos. É ultrapassado, não é produtivo, não conta história. Saia na rua e veja, estamos em todos os lugares e exercendo todas as profissões. Ninguém mais pode dizer o que podemos ou não fazer. Na dramaturgia estamos em progresso, avançando... Vejo essa mudança na minha carreira sim, porém estou longe de estar satisfeita", conta ela, que também está no cinema com sua primeira protagonista, Guilhermina, em Revolta dos Malês, um levante de escravos na cidade de Salvador, na Bahia.

"Esta personagem ainda está me impactando. Ainda não digeri Guilhermina, suas dores e sua importância. Estamos falando de escravos, de morte, de humilhação, do extermínio de um povo, de África. É a minha história e a dos meus. Um único trabalho me realizou muitos sonhos: falar de escravidão, ser protagonista, trabalhar com os diretores Jeferson De e Belisário Franca e exercer meu trabalho em plenitude. Com Guilhermina entendi de fato que preciso estar em campo com meu ofício. Nas escolas, nas comunidades, nas ruas e aprendi também que o céu é o limite. Revolta dos Malês me coloca a serviço de desvendar a história do negro no Brasil. As coisas não são claras, tudo é muito superficial, sem imagens e poucos registros. Quero colaborar para que o audiovisual traga mais dessas histórias para cena. Penso em produzir também", comemora.

Shirley Cruz conta que se sente feliz por poder quebrar tabus com Gláucia de Bom Sucesso (Foto: Victor Affaro/Divulgação)

 

Nascida em uma família de classe média, Shirley desde cedo lidou com o racismo e estudar a história da raça negra. "A gente que é negro aprende muito cedo sabe? É cruel. Mas a ficha só cai depois, porque quando criança você custa a entender o que está acontecendo. Primeiro parece brincadeira quando você escuta: “Seu cabelo é ruim”, “Nega do cabelo duro”, etc... Depois o coleguinha só gosta das outras meninas, as de pele clara, cabelo liso e olhos azuis. Hoje eu sei que essas e outras situações eram racismo na veia! Por outro lado, sempre tive atitude, nunca fui conformada. Era excelente aluna, sempre oradora da turma e nunca baixei a cabeça, sempre argumentei."

CARREIRA
Na infância, Shirley encontrava dificuldade para se ver representata na dramaturgia. "Foi duro crescer se procurando nas telas e quase não se ver, sabe? A arte ajuda a formar caráter e é uma poderosa ferramenta de educação e autoconhecimento", conta ela, que se inspirava por estrelas negras como Ruth de Souza, Lea Garcia, Zezé Motta, Elisa Lucinda, Isabel Fillardis, Ilea Ferraz, Glória Maria, Chica Xavier e Dhu Moares.

"Como vocês podem ver são pouquíssimas. Mas só acreditei que eu poderia chegar lá por causa delas. Sei e sinto a responsabilidade que eu e as atrizes da minha geração temos. É muito forte quando uma menina negra me escreve ou me olha no fundo dos olhos nas ruas. Sei o que ela quer dizer, recebo e trabalho em dobro pra não decepcionar", explica.

Shirley começou a atuar aos 21 anos, quando foi estudar Artes Cênicas e começou a emendar importantes trabalhos. "Minha primeira oportunidade foi no teatro ao lado de Antônio Pedro, Luca De Castro, pai da atriz Carol Castro, e outras figuras importantíssimas. Meu segundo trabalho já foi no filme Cidade de Deus. Tive sobretudo muita sorte nesse início, porque eram trabalhos muito potentes e que me fizeram ter a certeza que eu estava no caminho certo."

Ela encara o desafio de se manter como atriz uma batalha que qualquer profissional brasileiro enfrenta. "Gosto de ressaltar que tudo é difícil nesse país. Ser advogado, médico, engenheiro, auxiliar de Serviços Gerais... Enfim, quantos desses profissionais nós conhecemos que estão desempregados ou dirigindo para os aplicativos? Minha profissão é difícil também, mas eu nunca pensei em desistir, eu pensei em agregar", conta ela, que também se formou em Jornalismo e chegou a trabalhar para Ana Paula Padrão. "Nos momentos de aperto como atriz, busquei alternativas que me deixavam dentro dos sets de filmagem ou muito próxima."

Atualmente seu maior sonho é poder ver um Brasil com mais oportunidades para todas as pessoas, independente de raça e gênero. "Meu sonho é viver num país que dê acesso e que respeite o papel da cultura na boa formação e sobrevivência de um povo", almeja.

Shirley Cruz fala de da importância que tem na questão da representatividade para jovens negras (Foto: Victor Affaro/Divulgação)

 


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