
Malga de Paula quebrou o silêncio e falou pela primeira vez sobre a perda do marido, o humorista Chico Anysio, morto em 23 de março de 2012, vítima de complicações de uma infecção pulmonar. Na entrevista, feita na casa que ela morou por 14 anos com o humorista, na Barra da Tijuca, Malga fala o tempo todo com a voz embargada, não para de mexer na aliança que se recusa a tirar do dedo e diz que só “traiu” o marido ao pintar as unhas de azul-turquesa. “Ele preferia esmalte claro”, conta.
Na conversa, ela revelou estar “completamente fechada” a novos amores e fez um relato emocionado dos últimos momentos vividos ao lado do humorista. “Choro muito mais do que sorrio. Dói demais. Acordo no meio da noite esquecendo que ele morreu. Sofro de depressão, sou bipolar, faço acompanhamento psiquiátrico”, diz. Formada em fisioterapia, Malga hoje é pesquisadora da novela Salve Jorge, da TV Globo. Seu projeto de maior motivação, porém, é levar adiante o Instituto Chico Anysio, que visa a apoiar o desenvolvimento de pesquisas com células-tronco no tratamento do enfisema pulmonar. “Quero investir em campanhas de conscientização e ajudar as pessoas”, afirma.
No quarto de Chico
“Eu era cantora e estava pesquisando sobre Dolores Duran, que fez muitas canções em parceria com Chico. Por isso o procurei. Quando cheguei a sua casa, ele me chamou para ouvir suas poesias românticas, sentei a seu lado e ele tocou na minha perna. Senti um arrepio que só se sente por quem se apaixona. Ele ia sair e me ofereceu uma carona. Antes, entrou no quarto para se arrumar, e me chamou. Pensei: ‘Que velho safado!’. Abri a porta, ele arrumadinho, sentadinho na cama. Falei que a manga da jaqueta estava comprida (ela chora de novo). Desde o início tive a certeza de que não seria a última mulher dele, seria a mulher eterna.”

Dor do remorso
“Chico sempre apoiou tudo o que fiz. Ele me admirava, era meu grande fã. Mesmo doente, insistiu para eu aceitar o trabalho da Glória (ela chora). Hoje, penso que deixei ele aqui, fiz muitas viagens (foi 20 vezes à Turquia), às vezes, me dá remorso.”
O último beijo
“Tive uma vida sexual ativa com ele. Nossas relações eram mais espaçadas, mas nada melhor do que deitar no seu peito, sentir seu corpo, beijar, ficar abraçada. Sexo não é tão importante para mim, nunca foi. Demorou alguns anos para ele entender que o que ele tinha para me dar era suficiente. O problema maior no final da vida do Chico não era sexual, mas a dificuldade respiratória. Não tinha força para uma transa de duas horas, mas aí ficava por minha conta. Eu me encarregava de fazer o serviço mais pesado (risos). Não esqueço o último beijo no CTI (ela chora).”
Despedida
“O momento mais difícil foi quando tive que dizer a ele que ele podia ir embora. ‘Meu amor, fique à vontade. A vida é sua, vamos ficar bem.’ Nesse momento, o coraçãozinho parou de bater. E foi o último dia que a gente se falou. Foi a despedida de nossas almas. Falei: ‘Amor da minha vida’. E ele disse: ‘Vida do meu amor’ (ela chora).”
Relação com os enteados
“Minha melhor relação é com o Bruno Mazzeo. Me dou bem com o Nizo Neto e com os dois filhos da Zélia Cardoso. É bom dar um abraço neles e lembrar do Chico. Toda a família tem problema com o Lug de Paula. Eu nem sei onde ele anda. Nenhum irmão concordou de ele não visitar o pai, não ir ao velório. Ele foi a pessoa que mais sofreu com esse monte de casamentos do pai.”
Como ficou a herança
“Lug contestou tudo, mas está no inventário, nada foi dividido. Chico nunca foi de guardar dinheiro. O que ele deixou para mim é suficiente, mesmo que não tenham sido grandes fortunas. Ele era desapegado, construía patrimônio, uma história e, três anos depois, saía com uma malinha e recomeçava tudo. Ficou a vida inteira pagando pensão. Chico tinha um salário muito bom da Globo, mas não tinha economias. Ele comprava casa para filho, trocava carro, construía casa da empregada.”
Dias difíceis
“Após a cremação, fiquei com a urna das cinzas na minha casa por uma semana. Durante o dia, ela ficava no escritório e, durante a noite, na cama comigo. Sentia a presença dele. Só consigo rir agora, nos últimos dois meses. Choro muito mais do que sorrio. Dói demais. Acordo, às vezes, no meio da noite esquecendo que ele morreu. Sofro de depressão, sou bipolar, faço acompanhamento psiquiátrico.”
